No Brasil, 84,5% das pessoas têm ao menos um preconceito contra mulheres, revela estudo da ONU

(P. Withaker – Reuters)

 
O preconceito contra as mulheres continua profundamente enraizado em grande parte do planeta e praticamente não diminuiu na última década, mostra estudo divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Quase nove em cada dez pessoas têm algum tipo de preconceito contra as mulheres e uma em cada quatro pessoas aceita o fato de um homem bater em uma mulher, de acordo com o relatório.

Metade da população mundial acredita que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres e 40% que são melhores líderes do setor empresarial. Apenas 27% acreditam que é essencial para a democracia que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, 46% acham que os homens têm mais direito a um emprego e 28% consideram que a universidade é mais importante para homens do que para mulheres.

Mesmo em lugares onde os níveis de educação são mais elevados, as mulheres continuam ganhando, em média, 39% menos do que os homens.

Os dados compilados referem-se a 80 países, que representam 85% da população global, e foram coletados entre 2017 e 2022.

Quase 85% dos brasileiros têm preconceito

De acordo com o levantamento, 84,5% dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra as mulheres. Em média, mais de 75% dos entrevistados têm preconceitos em questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos.

Por outro lado, pouco mais de 9% avaliam que o estudo universitário é importante apenas para os homens. Sobre a participação feminina na política, a pesquisa aponta que mais de 39% dos entrevistados acreditam que mulheres não desempenham este papel tão bem quanto os homens.

Além disso, 31% dos brasileiros acham que homens têm mais direito a vagas de trabalho ou são melhores em cargos executivos.

 
Sinais de estagnação

Em nível global, de acordo com o PNUD, o levantamento sugere que o progresso nos últimos anos foi baixo, apesar de movimentos importantes pelos direitos das mulheres, como o MeToo.

Em média, a parcela de mulheres como chefes de estado ou chefes de governo tem se mantido em torno de 10% desde 1995, e no mercado de trabalho as mulheres ocupam menos de um terço dos cargos gerenciais.

Se comparados com os dados recolhidos entre 2010 e 2014 em 38 países, verifica-se, em geral, uma estagnação.

Por exemplo, a porcentagem de pessoas com algum preconceito contra as mulheres melhorou ligeiramente, de 86,9% para os 84,6%.

Contudo, existem exceções: em alguns países, o número de pessoas que não tem qualquer preconceito em relação ao gênero aumentou significativamente.

É o caso da Alemanha, onde o número de inquiridos com pelo menos um preconceito caiu de 56% para 37% na última década, do Japão, onde caiu de 72% para 59%, e no Uruguai, onde baixou de 77% para 61%.

Em outros casos, porém, houve retrocessos: na Rússia, o número de pessoas com ao menos um preconceito em relação às mulheres subiu de 87% para 91%; na Coreia do Sul, de 85% para 90%; e no Chile, de 74% para 80%.

 
Exemplos positivos

Os autores do relatório afirmam que a permanência destes preconceitos explica o recente avanço dos movimentos contra a igualdade de gênero e, em alguns países, o aumento das violações dos direitos humanos.

O PNUD sublinhou ainda que, sem avanços nos direitos das mulheres, é impossível progredir em questões de desenvolvimento, numa altura em que muitos indicadores neste âmbito estão a cair.

“As normas sociais que afetam os direitos das mulheres são também prejudiciais para a sociedade em geral, travando a expansão do desenvolvimento humano”, disse, em comunicado, o diretor do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.

Para o PNUD, os governos têm um papel fundamental na mudança das normas sociais. Exemplo disso é a alteração na regulamentação da licença parental em muitos lugares, que ajudou a modificar a percepção que existe sobre as responsabilidades de cuidar da família. Outro exemplo foram reformas laborais, que alteraram as crenças sobre as mulheres e o trabalho.

“Um ponto importante para começar é reconhecer o valor econômico do trabalho de cuidado não remunerado. Isso pode ser uma forma muito eficaz de desafiar as normas de gênero em torno da forma como o trabalho de cuidado é visto. Em países com os maiores níveis de preconceito de gênero contra as mulheres, estima-se que as mulheres despendem acima de seis vezes mais tempo do que os homens em trabalho de cuidado não remunerado”, afirma a diretora da Equipe de Gênero do PNUD global, Raquel Lagunas. (Com Deutsche Welle)


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