Ao longo da campanha presidencial de 2018, afirmamos que, se eleito, Jair Bolsonaro em algum tentaria dar um “cavalo de pau” na democracia brasileira. Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto na esteira dos escândalos do Petrolão e acreditou que as urnas eleitorais lhe concederam o título de “dono do Brasil”. O pior é que muitos dos seus apoiadores continuam acreditando na cantilena tosca e criminosa.
Não foi preciso muito tempo para que nossos alertas se confirmassem. Bolsonaro passou a tratar imprensa e opositores com truculência verbal, enquanto sua turba tratava de disseminar mentiras País afora. Nos últimos dois anos, passamos a citar Bolsonaro como “golpista”, algo que está na sua essência.
A tentativa de golpe em 8 de janeiro passado fracassou por muito pouco, mas não se pode normalizar aquilo que Bolsonaro transformou em algo comum. A democracia brasileira resistiu às investidas bolsonaristas, mas agora precisa se fortalecer.
A Comissão parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, também conhecida como CPMI dos atos golpistas, aprovou nesta terça-feira (13) a convocação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Torres esteve preso, agora está em prisão domiciliar, enquanto Cid continua detido em um batalhão policial do DF.
“Eu acho que o Anderson Torres e o Mauro Cid são as pessoas com as quais nós temos que iniciar as oitivas aqui na CPMI”, defendeu a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da comissão.
“Eu vejo que são dois nomes que têm uma relação muito direta com os fatos que se iniciaram no pós-eleição, de 30 de outubro até 8 de janeiro”, completou a parlamentar maranhense.
Eliziane defendeu que ambos sejam ouvidos nas sessões da próxima, mas a ordem dos depoimentos depende de deliberação da mesa diretora e aprovação do presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA). Contudo, Maia se recusou a assumir o compromisso de que Torres e Cid sejam ouvidos nas primeiras sessões de oitivas da CPMI.
A comissão também aprovou a convocação dos ex-ministros Augusto Heleno, golpista de plantão, e Walter Braga Netto, vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022. A lista de convocados inclui também o paraquedista Ailton Barros, que se apresentava como “01 de Bolsonaro”.
Os governistas que integram a CPMI barraram requerimento de convocação do ex-ministro Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Lula. “Tem que reconhecer a força poderosa do governo Lula, que veio invadir essa CPMI para blindar”, disse o senador Eduardo Girão (Novo-CE), bolsonarista conhecido.
“O plenário é soberano. O que nós tivemos aqui foi a constatação de que o foco da CPMI não será desviado”, rebateu a relatora Eliziane ao término da sessão. “O que tem sido colocado aqui vez por outro é que haveria uma parcialidade que não se sustenta no mundo real, porque os fatos estão apresentado e estão aí para a sociedade brasileira”, completou.
Em que pese o fato de Mauro Cid e Anderson Torres estarem convocados para depor, não se deve alimentar a possibilidade de que ambos revelem detalhes do plano de golpe, mesmo que as investigações tenham identificado a participação da dupla na trama golpista.
Cid e Torres certamente recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ficarem em silêncio durante os respectivos depoimentos, mas no pior dos cenários afirmarão aos parlamentares que desconhecem os fatos apurados pelos investigadores. A razão para o eventual silêncio ou dissimulação da dupla é garantir a vida. O miliciano Adriano da Nóbrega, ligado à família Bolsonaro, sabia demais.
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