Em 2013, os brasileiros foram às ruas por causa de R$ 0,20, hoje assistem calados aos absurdos políticos

 
Há dez anos, em junho de 2013, manifestantes tomaram as ruas da maior cidade brasileira, São Paulo, para protestar contra a tarifa de ônibus, que na ocasião sofreu acréscimo de R$ 0,20 Os protestos, batizados de “Jornada de Junho”, foram intensos e seguidos, com direito a depredações e enfrentamentos com as forças de segurança. À época, as manifestações ganharam outras cidades do País, como, por exemplo, Rio de Janeiro.

Em dado momento, os protestos deixaram à beira do caminho os centavos a mais na tarifa do ônibus, passando a focar o descontentamento da população com as políticas do governo de então. Meses depois, em 17 de março de 2014, a Polícia Federal deflagrou a primeira fase da Operação Lava-Jato, marcada pela prisão do doleiro Alberto Youssef. Na ocasião foi escancarado um dos maiores esquemas de corrupção da história nacional.

Na esteira da Lava-Jato, os protestos aumentaram em quantidade de manifestações e em número de participantes. Dezenas de cidades foram palco de atos contra a corrupção e o governo da então presidente Dilma Rousseff. A intolerância de parte da população em relação ao PT ganhou as ruas, como se corrupção fosse exclusividade da esquerda. OS protestos de 2013 abriram caminho para a tragédia que estamos enfrentando desde janeiro de 2019.

Dez anos depois, a sociedade brasileira decidiu adotar uma postura de leniência diante das barbaridades que brotam do Congresso Nacional, mas precisamente da Câmara dos Deputados, onde o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), insiste em emparedar o governo.

Lira, que tem como fonte de inspiração o ex-deputado federal Eduardo Cunha, exige do presidente Lula cargos em todas as esferas federais e liberação de verbas para garantir a aprovação de matérias de interesse do governo.

 
A forma como a Câmara dos Deputados vem pressionando o Palácio do Planalto é algo muito maior e mais perigoso do que os tais 20 centavos acrescidos à tarifa de ônibus, mas o brasileiro parece não estar preocupado com o cenário de chantagem explícita comandado por Lira e seus seguidores.

Em 8 de janeiro passado, o Brasil escapou por pouco de um golpe de Estado arquitetado por Jair Bolsonaro, cujo plano foi colocado em prática por assessores e membros da sua turba. O golpe não se consumou porque as Forças Armadas não embarcaram na aventura criminosa do golpista-mor.

Não obstante, voltando ainda mais no tempo, quando Fernando Collor de Mello se viu envolvido em escândalos de corrupção, os chamados “caras pintadas” tomaram as ruas do País para exigir a sua saída da Presidência da República.

É fato que o movimento foi um sucesso devido à maciça participação de simpatizantes e integrantes da esquerda, mas o que se vê hoje é uma população letárgica que aceita passivamente as barbaridades que ameaçam insistentemente a democracia brasileira e o Estado de Direito.

O brasileiro costuma debochar e fazer chistes de toda ordem com os argentinos, mas, brincadeiras à parte, é preciso admitir que na Argentina esses escândalos que temos vivido já teriam paralisado o país de norte a sul. O que é preciso para o brasileiro reagir?


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