Caso Marielle: delação de Élcio Queiroz abre caminho para elucidar execução de Adriano da Nóbrega

 
Conduzida pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), a Operação Élpis, que investiga o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, trouxe informações relevantes para o caso. Acusado de participação no crime, Élcio Queiroz firmou acordo de delação premiada com os investigadores e acusou Ronnie Lessa de ser o responsável pelos tiros que mataram Marielle e seu motorista.

Independentemente das novas informações divulgadas até o momento, a opinião pública e boa parte da imprensa nacional cobram detalhes sobre o mandante do crime. Notícias têm insinuado que os investigadores não têm tal informação, mas beira a irresponsabilidade imaginar que no âmbito do acordo de delação o nome do mandante não foi revelado.

Quem conhece a competência dos policiais federais e a firmeza do MP-RJ sabe que esse detalhe não ficaria à margem do acordo de colaboração firmado por Élcio Queiroz. Na opinião do UCHO.INFO o nome do mandante já é de conhecimento dos investigadores, mas ainda não foi revelado para não prejudicar a elucidação completa do caso. Por essa razão não há informações detalhadas sobre o mandante.

É importante ressaltar que com o avanço das investigações, que só foi possível após o início do novo governo, será possível desvendar a execução de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope do Rio de Janeiro e miliciano morto a tiros no interior da Bahia, em fevereiro de 2020.

Responsável pelo grupo de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime, Adriano colaborou intensamente com Fabrício Queiroz no esquema de “rachadinhas” que teve lugar no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, atualmente senador pelo Rio de Janeiro e filho “01” do ex-presidente da República.

Adriano da Nóbrega foi executado não apenas por ter informações comprometedoras a respeito do esquema das “rachadinhas”, mas porque sabia demais sobre a conduta criminosa de pessoas que gravitavam na órbita do clã Bolsonaro.

 
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Gravações obtidas pelo jornal “Folha de S.Paulo”, a partir de escutas telefônicas realizadas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, mostram a irmã de Adriano da Nóbrega afirmando que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) ofereceu cargos comissionados no Palácio do Planalto pela morte do miliciano.

“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, disse Daniela na gravação.

O ex-capitão do Bope, condecorado por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), foi apontado em investigações como um dos mentores do assassinato de Marielle Franco.

Em outra gravação autorizada pela Justiça fluminense, o sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins, conhecido como “Orelha” e apontado como braço direito de Adriano da Nóbrega, comenta em conversa telefônica com uma pessoa não identificada sobre a proximidade do miliciano com Jair Bolsonaro.

“Ele [Adriano] falava para mim: ‘Orelha, nunca vi isso. Estamos se fodendo por ser amigo do presidente da República. Porra, todo mundo queria uma porra dessa. Sou amigo do presidente da República e tô me fodendo’. Morreu por causa disso”, disse Orelha na gravação.

Acusado por Queiroz de ser o responsável pelos tiros de submetralhadora que mataram a ex-vereadora do PSOL e seu motorista, Ronnie Lessa afirmou em entrevista à revista Veja ter certeza de que Adriano da Nóbrega atuou como intermediário do crime.

“Tenho praticamente certeza de que ele atuou como intermediário. O Adriano já estava num patamar que não entrava mais num carro para dar tiro em ninguém. É um cara que tinha dinheiro e ganhava de tudo quanto é jeito”, disse Lessa na entrevista.

 
Lessa nega ter integrado o “Escritório do Crime”, mas em depoimento prestado em agosto de 2018 ao Ministério Público Federal, o miliciano Orlando da Curica, primeiro nome citado como como suspeito do duplo homicídio.

O avanço nas investigações sobre o caso Marielle é uma grande derrota para o clã Bolsonaro e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. Quem acompanha os bastidores da investigação conhece o motivo dessa derrota.

Quando o delegado Flávio Almada foi nomeado pelo governo Lula para assumir a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Cláudio Castro não mediu esforços para evitar a nomeação. O governador fluminense tentou convencer o presidente da República e o ministro Flávio Dino (Justiça) de que Almada não atuava em conjunto com a Polícia Civil do Rio e afrouxava as operações de combate ao crime organizado.

Almada foi nomeado em 10 de janeiro. Dias depois, Cláudio Castro determinou o retorno dos policiais civis que faziam a escolta do atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, desde 2008.

Considerando que, de acordo com a legislação, medicamentos que combatem a insônia necessitam de prescrição médica, muitos profissionais da saúde estão faturando alto no Rio de Janeiro com consultas agendadas por envolvidos no crime e que até agora permanecem nas catacumbas do poder.


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