Flertando com a cassação, o ainda senador Moro recorre à retórica oportunista de cerco à Lava-Jato

     
    Ex-juiz federal, ex-ministro da Justiça e ainda senador da República, Sergio Moro é o que se pode chamar de fulanização da farsa. Correndo o risco de ter o mandato parlamentar cassado em breve, Moro, abandonado nos campos político e judiciário, tenta reverter o quadro com ataques descabidos, acusando autoridades de cerco à Operação Lava-Jato.

    Sergio Moro responde a processo na Justiça Eleitoral por gastos indevidos na pré-campanha, em ação movida pelo PT e PL, e recentemente tornou-se alvo de investigação autorizada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na delação de Tony Garcia, que acusou o então juiz de tê-lo usado como “araponga” para grampear autoridades e empresários por ocasião do escândalo do Banestado.

    Enquanto ataca os que se opõem aos muitos desmandos cometidos no escopo da Lava-Jato, Moro acena ao Judiciário com uma retórica marcada por megalomania. O senador tem afirmado nos bastidores que pretende concorrer ao governo do Paraná nas eleições de 2026, sinalizando disposição de não atrapalhar a disputa em curso pelo comando do Executivo federal.

    Diferentemente do que afirma a grande imprensa, Moro não foi o principal protagonista no processo de descoberta do esquema de corrupção conhecido como Petrolão. A primeira denúncia sobre o esquema criminoso que avançava na Petrobras coube ao editor do UCHO.INFO, que em agosto de 2005 alertou as autoridades para o fato. À época, o PT decidiu substituir o sistema de mesadas a parlamentares pelo comando de postos na gestão federal com direito a bônus e ônus.


     
    No início de 2009, portanto cinco anos antes da deflagração da primeira etapa da Lava-Jato, que prendeu o doleiro Alberto Youssef, velho conhecido de moro, o editor do UCHO.INFO levou ao Ministério Público Federal, em São Paulo, denúncia detalhada sobre o esquema de corrupção envolvendo caciques dos partidos da base de apoio do governo. Naquele momento, o editor destacou, durante demorada reunião, que a investigação não poderia repetir os erros cometidos nas operações Satiagraha e Castelo de Areia, ambas anuladas pela Justiça por desrespeito à legislação.

    Moro sabe que sua incompetência como operador do Direito é proporcional à soberba que o levou a acreditar ser a última tábua de salvação de um país que assiste calado à corrupção institucionalizada pelo Congresso Nacional.

    Quando Moro deixou o Judiciário para servir ao golpista Jair Bolsonaro, ficou claro que sua atuação à frente da Lava-Jato, reforçada pelo histrionismo de Deltan Dallagnol, tinha por trás um espúrio projeto de poder, que há muito enfrenta processo de esfarelamento.

    Ademais, causa espécie a eleição de alguém que deixou a Lava-Jato para trabalhar na empresa responsável pela recuperação da Odebrecht, agora Novonor, sendo que a empreiteira foi uma das investigadas no inquérito sobre corrupção na Petrobras e outras instituições estatais.

    Fosse pouco, Moro tentou enganar a Justiça Eleitoral ao transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, informando como endereço residencial um hotel da capital paulista. Flagrado na esteira do fracassado drible, Sergio Moro foi obrigado a retomar seu domicílio eleitoral no Paraná.

    O senador paranaense tem direito ao chamado “jus sperniandi”, mas uma democracia só se sustenta quando a legislação é respeitada e vale para todos, até porque a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º (caput) é clara ao determinar que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

    A Lava-Jato cometeu excessos dos mais distintos, transformando culpados em vítimas do Estado. Não foi por falta de aviso!


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