Transferência do domicílio eleitoral de Rosângela Moro e plano de Michelle reforçam a imoralidade política

 
“O Brasil não é um país sério”. Creditada erroneamente ao general francês Charles de Gaulle, a frase foi dita pelo diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho ao jornalista Luís Edgar de Andrade, então correspondente do Jornal do Brasil em Paris, no âmbito do incidente diplomático conhecido como Guerra da Lagosta.

Crustáceos à parte, o Brasil está a anos-luz de ser um país minimamente sério. Não bastasse o contínuo desrespeito às leis por parte daqueles que deveriam defendê-la, há os que aproveitam determinadas situações para impulsionar a imoralidade, talvez seja o caso de amoralidade.

Nas eleições de 2022, Sérgio Moro e a “conja” Rosângela decidiram aplicar um drible na Justiça Eleitoral, informando um hotel na capital paulista como endereço residencial. No primeiro momento, a fraude permitiu que o casal transferisse os respectivos domicílios eleitorais para a cidade de São Paulo.

Candidato ao Senado Federal, Moro foi obrigado, por decisão judicial, a manter seu domicílio eleitoral no Paraná, estado que o elegeu à Câmara alta do Parlamento. Rosângela Moro, que usou o mesmo endereço fraudulento, foi eleita deputada federal por São Paulo.

Diante da possibilidade de cassação do mandato do marido, que é acusado de abuso de poder econômico e caixa 2, Rosângela transferiu seu domicílio eleitoral para o Paraná, que, a depender da decisão a ser tomada pelo Tribunal Regional Eleitoral, terá de realizar nova eleição para o Senado. A “conja” está de olho na disputa, mas nega que tenha interesse em concorrer ao Senado, não sem antes afirmar que continuará defendendo os interesses dos paulistas.

Em que pese o fato de tal manobra não ter dispositivo legal que a impeça, soa como oportunismo rasteiro a decisão de Rosângela Moro de redirecionar o domicílio eleitoral ao seu estado de origem. Caso venha a concorrer e seja eleita, Rosângela será uma espécie de “longa manus” do ex-juiz federal, que transformou os julgamentos decorrentes da Operação Lava-Jato em plataforma político-eleitoral, juntamente com o já cassado Deltan Dallagnol.


 
Nesse emaranhado de manobras que afrontam a moralidade, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pode, em breve, transferir seu domicílio eleitoral do Distrito Federal para o Paraná, com o intuito de concorrer ao Senado. A ideia partiu do inelegível Jair Bolsonaro, que enquanto não é preso no vácuo do plano golpista tenta se manter vivo politicamente.

Na opinião do golpista Bolsonaro, é melhor um mandato no Senado pelo período de seis anos do que aguardar até 2026 para concorrer. O mandato de senador é de oito anos. Michelle nutre, não é de hoje, o desejo de concorrer a algum cargo eletivo, mas sua eventual eleição ao Senado seria um deboche tão acintoso quanto a de Rosângela Moro.

Ultrapassa os limites extremos da compreensão um estado que elege um falso moralista que condenou acusados por corrupção e crimes correlatos e pode ser cassado por caixa 2 e abuso de poder econômico. Também afronta a razoabilidade o silêncio obsequioso dos paranaenses e dos paulistas diante da manobra espúria de Rosângela Moro. Sobre a pretensão política de Michelle Bolsonaro é melhor não comentar, pois o marido é quem pensa (sic) por ela.

Não por conta das lagostas, mas devido aos tubarões que nadam nas imundas águas da política nacional, o Brasil não é um país sério, mas flagrantemente imoral.


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