Envolto em uma crise desde 2016, o Peru vive mais um capítulo de sua persistente turbulência política. Após suspeita de corrupção da presidente peruana Dina Boluarte pela posse de supostos relógios de luxo não declarados, cerca de um terço dos ministros de governo deixaram os cargos na segunda-feira (1).
O ministro do Interior, Victor Torres, foi o primeiro a anunciar a saída, seguido pelas ministras da Educação, Miriam Ponce, e da Mulher, Nancy Tolentino. Os três manifestaram apoio a Boluarte.
“Conversei com a presidente e vou embora. Pedi demissão e ela concordou”, disse Torres, depois de participar de sua última reunião de ministros.
Ele ocupava o cargo desde 21 de novembro e alegou “problemas familiares” para deixar o governo. Sob a tutela de Torres estava a polícia que, juntamente com o Ministério Público, autorizou buscas na casa e no escritório da presidente, como parte do caso apelidado de “Rolexgate”. Ponce e Tolentino não divulgaram os motivos da renúncia.
“Rolexgate”
O escândalo dos relógios de luxo surgiu em meados de março, após um programa de TV mostrar Boluarte usando um Rolex no valor de cerca de 14 mil dólares (mais de R$ 70 mil). Outros programas mencionaram pelo menos mais dois relógios de luxo.
Depois das reportagens, Dina Boluarte garantiu que estava com as “mãos limpas” e que os relógios que possui foram comprados com seu próprio dinheiro.
Boluarte deveria ter apresentado os relógios ao Ministério Público na última terça-feira, 26 de março, e prestado depoimento no dia seguinte. No entanto, ela pediu o reagendamento de ambos os compromissos devido à “agenda pesada”, não comparecendo a nenhum deles.
Isto levou à busca em sua casa no sábado à noite, no âmbito de uma investigação sobre enriquecimento ilícito. A presidente é suspeita de não ter declarado uma coleção de relógios de luxo como parte do seu patrimônio. Segundo a polícia, foram disponibilizados 40 investigadores para o caso. No entanto, não foram encontrados na casa de Boluarte os três relógios Rolex mencionados nas reportagens de TV.
No domingo, a presidente solicitou à Procuradoria-Geral da República que antecipasse a data de seu depoimento sobre o caso, inicialmente previsto para a próxima sexta-feira.
O primeiro-ministro Gustavo Adrianzén condenou veementemente a ação da polícia, chamando-a de um “ataque intolerável à dignidade da presidente da República e da nação que ela representa” e afirmou que são “atos políticos desestabilizadores baseados em ordens judiciais questionáveis”.
O Peru vive desde 2016 uma sequência de crises políticas, com Congresso e presidentes em confronto. O presidente Martin Vizcarra, que governou o país de 2018 a 2020, dissolveu o Congresso em 2019 e determinou novas eleições. A nova legislatura destituiu Vizcarra do cargo no ano seguinte.
Em seguida, o presidente Manuel Merino, permaneceu no cargo por menos de uma semana, depois de violentos protestos que deixaram dois manifestantes mortos e 200 feridos. Seu sucessor, Francisco Sagasti, durou nove meses no cargo, antes de Pedro Castillo assumir o poder.
No dia 7 de dezembro de 2022, Castillo tentou dissolver o Congresso, intervir nos poderes públicos e governar por decreto, mas não recebeu o apoio legislativo. Em seguida, foi destituído e detido por rebelião e conspiração. Boluarte, que era vice-presidente, assumiu a presidência do país.
Depois que Castillo foi deposto e detido, violentos protestos aconteceram em todo o país, deixando 26 mortos e 646 feridos. Boluarte declarou estado de emergência em 15 províncias. Por causa das manifestações violentas durante sua posse, Boluarte, primeira mulher presidente do país, já está sendo investigada por “genocídio, homicídio agravado e ofensas corporais graves”.
Ao anunciar sua renúncia, Torres advertiu que se Boluarte deixar o poder “o país afundará”. (Com agências internacionais)
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