Em vez de se preocupar com a Enel, Ricardo Nunes deveria cuidar da cidade de São Paulo

     
    O oportunismo rasteiro que campeia no terreno da política é nauseante. Candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) só chegou à Prefeitura de São Paulo por conta da morte de Bruno Covas, em maio de 2021. Não fosse esse trágico episódio, Nunes certamente continuaria sendo um político menor e sem expressão, assim como era enquanto vereador.

    Sem reconhecer a essência pífia da própria administração, Ricardo Nunes não perde uma só oportunidade para destilar proselitismo barato e torpe. A mais nova investida do alcaide paulistano é contra o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

    Há dias, Silveira telefonou para o deputado federal Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Prefeitura paulistana, para conversar sobre o processo administrativo que pode culminar com a cassação da concessão da Enel Distribuição SP, distribuidora de energia elétrica na Grande São Paulo.

    Na opinião de Ricardo Nunes, o ministro de Minas e Energia não priorizou o assunto no tempo devido e agora quer adotar medidas contra a distribuidora de energia apenas por interesses político-eleitorais.

    No final de 2023, quando a maior cidade brasileira foi alvo de seguidos e demorados apagões, Ricardo Nunes veio à cena para capitalizar politicamente a partir do calvário enfrentado por milhões de paulistanos, que ficaram sem energia ao longo de dias, acumulando prejuízos de toda ordem.

    O prefeito de São Paulo deveria se preocupar com outras questões, que não a que envolve a Enel, pois há na cidade um cipoal de problemas que há muito aguarda soluções da administração municipal. Ruas e avenidas da cidade permaneceram no terreno do abandono por anos, mas faltando pouco para as eleições o prefeito decidiu recapear as vias com maior visibilidade, sendo que ruas transversais continuam dominadas por crateras, ondulações e remendos pífios.

    As calçadas são constante desafio para os pedestres, em especial os idosos, que podem se acidentar a qualquer momento. Veículos sofrem avarias diversas por causa dos buracos existentes na malha viária da cidade, sem contar os motoristas e motociclistas que se envolvem em acidentes devido à má conservação e sinalização das ruas.

    Ricardo Nunes critica o ministro de Minas e Energia porque quer exclusividade em relação aos louros político-eleitorais de eventual punição à Enel Distribuidora SP, como se tal processo fosse simples e dependesse de mera canetada. As autoridades precisam cobrar da empresa as multas já aplicadas e que estão em aberto.


     
    Privatização da Eletropaulo

    O processo de privatização da Eletropaulo durou quatro anos e foi possível a partir de um programa de venda de empresas estatais criado no governo Mário Covas (1995-2001).

    A Eletropaulo foi dividida em quatro empresas menores: uma de geração de energia (Empresa Metropolitana de Águas e Energia – Emae), uma de transmissão (Empresa Paulista de Transmissão de Energia, posteriormente incorporada pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista), e duas distribuidoras (Eletropaulo Metropolitana e Empresa Bandeirante de Energia). Apenas a Emae continua sob o controle do Estado.

    A Eletropaulo Metropolitana, responsável pela distribuição de energia elétrica na Grande São Paulo foi vendida para o “Lightgás”, consórcio liderado pela norte-americana AES. O consórcio pagou à época pouco mais de R$ 2 bilhões (aproximadamente R$ 9,5 bilhões em valores atualizados), sendo que a fiscalização da empresa ficou a cargo da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

    Em junho de 2018, a AES vendeu a 73% da Eletropaulo por R$ 5,5 bilhões (valor da época) para a italiana Enel por R$, em um negócio exclusivamente privado. Mesmo assim, a Enel se comprometeu a realizar aumento de capital no valor de R$ 1,5 bilhão. No final de 2019, após várias ofertas de aquisição de ações, a Enel Brasil (holding do grupo italiano) alcançou 100% da Enel Distribuição SP, fazendo com que as ações da empresa deixassem de ser comercializadas no Novo Mercado da B3, mas manteve o registro de companhia de capital aberto.

    Na esteira do populismo e de olho na reeleição, Ricardo Nunes quer que o governo federal mande pelos ares, da noite para o dia, um negócio privado. A Enel por certo é um fiasco como distribuidora de energia, mas tirar o principal negócio da empresa é algo que demanda tempo, paciência e muitas disputas judiciais. Em suma, o melhor que Nunes tem a fazer é buscar nova plataforma de campanha.


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