O imponderável

(*) Gisele Leite

É aquilo que não se pode pesar ou ponderar, o que não tem peso apreciável, aquilo que não se pode avaliar ou é indigno de ponderação. Eis que certos seres em sua incomensurável essência são assim… foi escritor, dramaturgo, caricaturista, desenhista, jornalista e criador do personagem “Menino Maluquinho” e ainda um dos fundadores da revista humorística “O Pasquim”.

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Minas Gerais em Caratinga em 24 de outubro de 1932, seu nome adveio da combinação dos nomes da mãe, Zizinha e o do pai, Geraldo. Desde cedo mostrou seu talento para o desenho e, aos seis anos teve seu desenho publicado no jornal Folha de Minas.

Sua carreira começou na revista “Era uma vez” quando realizava colaborações mensais. E, mais tarde em 1954 passou a trabalhar na Folha da Manhã, atualmente, a Folha de S. Paulo, sempre na coluna de humor. Depois foi para a revista O Cruzeiro.

Era formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Casou-se em 1958 com Vilma Gontijo com quem teve três filhos. Em outubro de 1960, lançou pela primeira vez uma revista brasileira de quadrinhos chamada “Pererê”, contando histórias genuinamente brasileiras.

As histórias se passavam na floresta fictícia “Mata do Fundão”. A publicação da revista durou até abril de 1964, quando foi suspensa pelo regime militar. Em 1975, a revista foi relançada com o nome de “A Turma do Pererê”.

Em 22 de junho de1969 foi lançado o semanário “O Pasquim”, um tabloide de humor e de oposição ao regime militar que renovou a linguagem jornalística, do qual participavam diversas personalidades importantes, como os cartunistas Jaguar e Henfil, os jornalistas Tarso de Castro e Ziraldo, entre outros.

Em novembro de 1970, toda a redação do jornal foi presa depois da publicação de uma sátira do célebre quadro do Dom Pedro às margens do Rio Ipiranga. A publicação, que fazia muito sucesso, circulou até 11 de novembro de 1991.

Sendo muito engajado na luta contra a censura, Ziraldo atritou com a ditadura militar através de charges e cartuns de cunho político, e assim realizou resistência ao regime.

Em 1968, um dia depois da publicação do AI-5, o escritor foi preso pela primeira vez. E, em 1969, se uniu aos jornalistas Tarso de Caastro e Sérgio Cabral para fundar “O Pasquim”, periódico que perturbava a ditadura. E, novamente sob a mira dos militares, foi pela segunda vez preso em 1970 e também foi detido pela terceira vez.

Confessou em entrevista dada em 2007 à Folha de S.Paulo que “ter podido atravessar os anos de chumbo fazendo O Pasquim foi uma dádiva. Morríamos de medo, mas fazíamos de tudo, afirmou”.

A reparação pela perseguição implacável durante a ditadura militar veio apenas em 2008 quando recebeu a indenização do Estado avaliada em um milhão de reais. Obteve também pensão vitalícia mensal de quatro mil reais. Também outros vinte jornalistas foram anistiados. Fora duramente criticado quando recebeu a indenização estatal. Mas, Ziraldo não se abalou

Em 1969, Ziraldo lançou seu primeiro livro infantil, “Flicts”, que relata a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo. Nesse livro usou o máximo de cores e o mínimo de palavras. Nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio Nobel Internacional do Humor, no 32.º, no Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas.

O corpo de Ziraldo foi velado no MAM na cidade do Rio de Janeiro e enterrado no domingo dia 7 de abril, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. Entre as frases deixadas por Ziraldo, destaco uma: “Todos os canalhas foram crianças infelizes…”. Eis aí o imponderável.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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