Tarcísio de Freitas, o “turista acidental”, debocha dos paulistas ao dizer que não aceita excessos da PM

 
A pasmaceira que toma conta dos paulistas é preocupante, assim como inexplicável foi a eleição de Tarcísio de Freitas para comandar o mais importante estado da federação. “Turista acidental” em São Paulo, Tarcísio destila seu conhecido populismo barato de olho na reeleição, mesmo não descartando a possibilidade de concorrer à Presidência da República em 2026.

O governador dos paulistas adotou o estilo “bate e arrebenta” contra os mais pobres porque isso agrada ao bolsonarismo, seu berço político-eleitoral. Aliás, São Paulo se encaixa perfeitamente em célebre frase do acadêmico britânico Victor Bulmer Thomas: “As elites da América Latina só conseguem se sentir ricas quando rodeadas de pobres.”

Nesta segunda-feira (8), durante evento em Santo André, cidade do Grande ABC, Tarcísio disse aos jornalistas que o policial militar que agrediu com um tapa no rosto uma mulher que estava sentada no chão de estação do Metrô será “severamente punido”.

“Já identificamos o policial, já está afastado do serviço da rua. É uma coisa que a gente lamenta profundamente, não condiz com a grandeza dessa instituição Polícia Militar, que é uma instituição de excelência. Não vamos tolerar nenhum tipo de desvio. Esse policial militar será severamente punido, e é o mesmo destino que terá todo mundo que não entenda que é necessário tratar nosso cidadão com urbanidade, que desrespeite os princípios da corporação”, declarou o governador.

Tarcísio de Freitas destilou sua irresponsabilidade política ao indicar para o comando da Secretaria de Segurança Pública um policial militar da reserva que é a favor da matança. É importante ressaltar que o secretário Guilherme Derrite, enquanto comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), disse em gravação de áudio, divulgada nas redes sociais, ser vergonhoso para um policial “não matar nem três pessoas em cinco anos”.


 
Derrite foi convidado a deixar a Rota, tropa de elite da PM paulista, devido ao grande número de confrontos e de pessoas mortas em serviço. “A real? Porque eu matei muito ladrão”, disse o capitão da reserva, em entrevista, ao ser questionado sobre o motivo que o levou a deixar a corporação.

“A real é essa, simples. Pá! Tive muita ocorrência de troca de tiro, eu ia para cima. Quem vai para cima, está sujeito. Troquei tiro várias vezes, uma atrás da outra e isso acabou incomodando, não sei quem, mas veio a ordem de cima para baixo, questão política: ‘tira o Derrite da Rota’. E fui convidado a me retirar”, declarou.

Não se pode esperar comportamento diferente dos policiais militares que têm como chefe imediato um secretário que entende ser “vergonhoso não matar três pessoas em cinco anos”.

A sensação de impunidade entre os policiais militares, que avançou desde a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, ganhou reforço extra quando Tarcísio disse “não tô nem aí” para as acusações feitas contra ele por entidades brasileiras e direitos humanos à Organização das Nações Unidas (ONU) por conta da escalada de violência nas operações da PM na Baixada Santista, no litoral sul do Estado.

“Nossa intenção é proteger a sociedade. Nós estamos fazendo o que é correto, com muita determinação e profissionalismo (…) Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não tô nem aí”, declarou, em 8 de março.


 
Sobre a agressão à mulher na estação do Metrô, no centro da capital paulista, Tarcísio disse que não tolerará “esse tipo de excesso, esse tipo de abuso”. “Sou o primeiro a defender a polícia no enfrentamento contra bandido, contra crime, mesmo que esse enfrentamento por vezes seja duro, o enfrentamento que a gente não quer. Agora, por outro lado, não vamos tolerar de jeito nenhum esse tipo de excesso, esse tipo de abuso. São coisas que falam mal da instituição, que atingem a imagem da instituição, e temos que preservar a instituição, que é importante.”

O governador pediu “desculpas à sociedade”, afirmando que o destino dos que resolvem transgredir será “a punição disciplinar, o afastamento da corporação, a expulsão”. Ele garantiu que agirá “com muita força” para impedir que comportamentos como esse se repitam.

A operação da Polícia Militar na Baixa Santista resultou em 56 mortes, sendo muitas das vítimas eram suspeitas. A alegação de enfrentamento entre policiais e criminosos não se sustenta, principalmente porque a PM levou cadáveres aos hospitais da região para que as mortes não fossem constatadas nos respectivos locais. Isso significa alterar a cena do crime, impedindo o trabalho da perícia, o que por si só é uma violação flagrante da lei penal. Em qualquer país minimamente sério – não é o caso do Brasil –, Derrite estaria preso.

Pois bem, Tarcísio de Freitas afirmou “não vamos tolerar de jeito nenhum esse tipo de excesso, esse tipo de abuso”, mas é preciso que o governado explique quais tipos de abusos não serão aceitos. O que se viu na Baixada Santista foi um festival de abusos por parte dos policiais militares, que agiram de forma covarde para vingar a morte de dois integrantes da corporação. A regra que fermenta nas catacumbas da PM paulista é “para cada policial morto, dez criminosos devem ser eliminados”. Foi o que aconteceu nas cidades em Santos e Guarujá.

Para finalizar é preciso lembrar que na cidade de Piracicaba, no interior paulista, PMs agrediram um jovem negro e seu pai cadeirante. Afastar esses policiais criminosos das ruas é premiar quem trata a população com violência, apenas porque o secretário de Segurança e o governador incentivam esse tipo de conduta. É preciso adotar rito sumário para expulsar da PM os criminosos fardados.

Tivessem os paulistas doses rasas de vergonha e sangue correndo nas veias, a essa altura o Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo, estaria cercado, sem data para desmobilização.


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