Ex-capitão do Exército alemão admite ter espionado para a Rússia

 
Um ex-capitão das Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) admitiu nesta segunda-feira (29) perante um tribunal em Düsseldorf ter espionado para a Rússia. Ele disse que forneceu informações à inteligência russa por temer agravamento das tensões nucleares, em meio à guerra na Ucrânia.

O suspeito, identificado como Thomas H., foi preso em 9 de agosto do ano passado. Ele responde por acusações de espionagem e de vazar segredos de Estado.

O capitão da Bundeswehr teria feito diversas ofertas – não solicitadas – de colaboração a autoridades no consulado da Rússia em Bonn e na embaixada em Berlim a partir de maio de 2023. Nessas ocasiões, ele teria entregado informações consideradas sensíveis.

De acordo com os promotores, Thomas H. fotografou documentos de treinamentos referentes a sistemas de munição e tecnologias aeronáuticas. Ele teria depositado o material na caixa de correios do consulado russo em Bonn. Não, há, no entanto, evidências de que ele teria sido pago para fazê-lo.

Como capitão, ele atuava no Departamento de Apoio e Serviços de Equipamento, Informação e Tecnologia, uma unidade da Bundeswehr na cidade alemã de Koblenz responsável por equipar as Forças Armadas, além de testar e adquirir novos equipamentos e tecnologias, às quais ele teria acesso.

Essa unidade, que possui 12 mil funcionários, viu seu trabalho aumentar desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, ao mesmo tempo em que o governo alemão realiza uma reforma da Bundeswehr após anos de descaso das autoridades.


 
TikTok e AfD

No julgamento, o homem de 54 anos disse que as acusações contra ele seriam “amplamente” precisas. Ele afirmou que entrou em contato com o consulado russo por causa de um conteúdo veiculado “provavelmente no TikTok”, onde ele seguia o perfil de um influenciador pró-Rússia filiado ao partido ultradireitista “Alternativa para a Alemanha” (AfD). O suspeito, no entanto, disse não estar certo de qual era esse conteúdo.

Em seu relato, ele disse que estava preocupado com a segurança de sua família no caso de um ataque nuclear. Por isso, segundo disse, tentou entrar em contato com autoridades russas para obter informações de antemão sobre quando esses ataques aconteceriam.

À época em que oferecia sua colaboração aos diplomatas russos, ele entrou com um pedido de adesão à AfD. De acordo com a corte, o pedido foi autorizado em julho de 2023.

Ele disse se arrepender de suas ações, e que, naquela época, não estava em boas condições mentais.

Espionagem em alta na Alemanha

A Alemanha – o segundo maior fornecedor de ajuda militar a Kiev – vem observando um aumento exponencial nos casos de espionagem em seu território desde o início da guerra. O Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV), a principal agência de inteligência interna do país, alertou no ano passado para os riscos de “operações agressivas russas de espionagem”.

Neste mês, investigadores prenderam dois homens de cidadania russa e alemã por suspeita de espionarem para a Rússia e planejarem ataques em solo alemão, incluindo a alvos militares americanos, numa tentativa de sabotar o apoio alemão à Ucrânia.

Um ex-agente da inteligência alemã está sendo julgado em Berlim, acusado de entregar à Rússia informações que expunham o conhecimento das autoridades alemãs sobre operações de mercenários russos na Ucrânia.

Em novembro de 2022, um oficial da reserva da Bundeswehr foi condenado por repassar informações confidenciais à inteligência russa.

No ano passado, Berlim expulsou vários diplomatas russos acusados de espionagem, com Moscou reagindo na mesma moeda. Neste mês, o chanceler federal, Olaf Scholz, afirmou que “jamais poderemos aceitar que atividades de espionagem ocorram na Alemanha”. (Com agências internacionais)


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