O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, anunciou neste domingo (30) a criação de uma nova aliança de partidos populistas europeus de direita – a terceira do Parlamento Europeu.
Intitulada “Patriotas pela Europa”, a agremiação é formada pelo partido de ultradireita de Orbán, o Fidesz, pelo anti-imigração e campeão nacional de votos Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) e pela eurocética Aliança dos Cidadãos Descontentes (ANO), grupo político do ex-premiê tcheco Andrej Babis. Juntas, as três siglas fizeram 24 dos 705 eurodeputados.
Atualmente, há sete coalizões no Parlamento Europeu, que representam partidos políticos dos 27 países-membros da UE. As bancadas são organizadas de forma supranacional, reunindo partidos de países distintos.
Alguns partidos nacionais, porém, não integram nenhuma dessas bancadas – é o caso, por exemplo, da alemã Alternativa para a Alemanha (AfD), que foi recentemente excluída da bancada de ultradireita Identidade e Democracia (ID), após sucessivos escândalos que irritaram outros partidos. A AfD foi o segundo partido mais bem votado da Alemanha nas eleições europeias, com 15 eurodeputados.
Objetivo é tornar-se “maior grupo de direita da Europa”
Em coletiva de imprensa na Áustria, Orbán, que na segunda-feira (1) assume a presidência rotativa do Conselho da UE pelos próximos seis meses, afirmou que o Patriotas pela Europa quer se tornar o “maior grupo de forças de direita na Europa”.
“Uma nova era começa aqui. E o primeiro, talvez mais decisivo momento desta nova era é a criação de uma nova bancada europeia que vai mudar a política europeia”, afirmou Orbán.
O líder húngaro prometeu que a aliança lutaria por “paz, segurança e desenvolvimento” em vez de “guerra, migração e estagnação” geradas pelo que ele chamou de “elite de Bruxelas”, e que as portas estão abertas a todos que queiram se juntar a eles.
Para ser reconhecida no Parlamento Europeu como uma bancada de fato, a nova aliança precisará ainda do apoio de partidos de pelo menos outros quatro países da UE. Além da AfD, possíveis adesões poderiam vir da Liga italiana (8 cadeiras, hoje no ID), do Partido da Liberdade holandês (6 cadeiras, também no ID), do Chega de Portugal (2 cadeiras, hoje no ID), da polonesa Konfederacija (6 cadeiras, sem bancada) e do búlgaro Renascimento (3 cadeiras, sem bancada).
O trio não respondeu às perguntas da imprensa, mas o FPÖ disse que logo faria uma nova coletiva de imprensa para anunciar a adesão de outros partidos.
O Fidesz de Orbán foi até 2021 membro do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita e maior bancada no Parlamento Europeu. O FPÖ, que fazia parte do ID, também abandonou a aliança para criar o Patriotas. Já o ANO deixou o Renovar a Europa.
Mais soberania, menos poderes à UE
O manifesto de fundação do Patriotas pela Europa critica o que afirma serem planos para “um Estado europeu central” e promete “priorizar a soberania antes do federalismo, a liberdade antes de imposições, e a paz”.
“Queremos que a democracia direta tenha mais peso e seja mais importante que o direito europeu. Queremos enxugar essa administração da UE. Queremos um Parlamento Europeu muito menor. E queremos trazer de volta para nossos países as atribuições que hoje estão em Bruxelas.”
De acordo com o trio, outras prioridades da aliança devem ser o fim do Acordo Verde Europeu e a luta contra a imigração ilegal.
A UE registrou quase 53,3 mil migrantes ilegais chegando pelas fronteiras nos primeiros cinco meses de 2024. Se o ritmo for mantido, seriam quase 128 mil pessoas em um ano, uma queda de 53% em relação às 275 mil chegadas irregulares em 2023.
Mais fortes ou mais fragmentados?
Partidos populistas de direita saíram fortalecidos nas últimas eleições ao Parlamento Europeu, no início de junho. Contudo, o desempenho variou de país a país. Siglas nacionalistas surfaram no descontentamento do eleitorado com a inflação, a migração e o custo da transição verde.
Até agora, esses partidos têm se dividido basicamente em dois grupos no Parlamento Europeu. Com a criação de uma terceira bancada, porém, eles esperam ter mais influência sobre as decisões do bloco, mas podem acabar também mais fragmentados.
Políticos de ultradireita, como Orbán e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, queixaram-se de terem sido excluídos das negociações para definir os principais cargos do bloco – apesar de terem ampliado seu espaço no Parlamento. (Com agências internacionais)
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