França: centristas e esquerda tentam deter avanço da extrema-direita

 
Em esforço articulado para impedir a ultradireitista Reunião Nacional (RN) de formar maioria no Parlamento francês no segundo turno da eleição legislativa, marcado para o próximo domingo (7, partidos de centro e de esquerda então retirando candidaturas que concorrem entre si com a RN.

A estratégia visa concentrar em uma só candidatura do campo democrático os votos dos eleitores que não querem ver a eurocética e anti-imigração RN no comando da Assembleia Nacional – um cenário que levaria o governo do presidente Emmanuel Macron à paralisia.

A RN de Marine Le Pen conseguiu a liderança no primeiro turno, realizado no domingo passado, com 33,15% dos votos, seguida pela coalizão de partidos de esquerda Nova Frente Popular (NFP), com 27,99%, e pela coligação centrista de Macron, a Juntos, com 20,04%.

501 dos 577 assentos do Parlamento serão definidos no 2º turno

Mas a votação do primeiro turno só definiu 76 dos 577 deputados da Assembleia Nacional, que obtiveram maioria absoluta. Destes, 37 foram da RN, enquanto a NFP fez 32 e o Juntos, apenas dois. A decisão sobre os demais 501 assentos ficou para o segundo turno. Só que em 306 dessas 501 disputas, três candidatos se qualificaram. Boa parte deles é ligada à RN – que está em quase todas as votações do segundo turno –, à NFP (272) ou ao Juntos (239), segundo a Rádio França Internacional.

Com isso, candidatos da esquerda e do centro se veem competindo entre si – uma situação que pode beneficiar a RN, que já largou na frente em 260 disputas, contra 127 da NFP e 68 do Juntos, conforme um levantamento do jornal francês “Le Monde”.


 
Pesquisas realizadas antes do primeiro turno sugerem que uma grande maioria dos eleitores de esquerda e uma maioria menor de centristas estaria disposta a apoiar outro candidato para manter a RN fora do governo francês – na França semipresidencialista, é o Parlamento quem indica o primeiro-ministro e forma o gabinete de governo.

O jornal “Le Monde” afirma que houve renúncias de candidaturas em ao menos 167 disputas, a maioria vindas da NFP ou do Juntos. O prazo para retirada de candidaturas se encerra na noite de terça-feira (e).

Centristas mais relutantes

A própria NFP já havia anunciado que desistiria candidaturas em disputas onde houver concorrentes do campo democrático mais bem votados e, portanto, com maiores chances de derrotar a ultradireita.

Macron indicou que sua coligação faria o mesmo, desde que os candidatos beneficiados pertençam a partidos que compartilham dos “valores da República”. Já o conservador partido Os Republicanos, que teve 6,6% dos votos e só elegeu um deputado no primeiro turno, disse que pretende não retirar nenhuma candidatura.

Alguns aliados de Macron sugeriram, porém, que não ajudariam a eleger candidatos da sigla de esquerda radical França Insubmissa, equiparando-a à RN. Foi o caso do premiê francês Gabriel Attal, que acusou o partido de “evitar uma alternativa crível” a um governo de ultradireita.

“Nenhum voto deve ser dado aos candidatos da Reunião Nacional, mas também aos candidatos da França Insubmissa, de quem diferimos em princípios fundamentais”, afirmou o ex-primeiro-ministro Eduoard Philippe, outro aliado de Macron.


 
O cenário de segundo turno com numerosas disputas “triangulares” – como são chamadas as eleições entre três candidatos – é incomum na França. Isso porque, para se qualificar para um segundo turno, candidatos precisam ter mais de 12,5% dos votos do eleitorado – algo difícil diante do usual desinteresse dos franceses, que não são obrigados a votar.

No domingo, porém, a taxa de eleitores que compareceram às urnas foi de quase 67% – a maior desde 1997, e muito acima dos 47,5% vistos na última eleição parlamentar, em 2022.

Macron dissolveu Assembleia Nacional

Em 9 de junho, após ver sua aliança centrista derrotada pela Reunião Nacional (RN) nas eleições ao Parlamento Europeu, Macron anunciou a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições antecipadas.

Ao convocar uma eleição-relâmpago, o francês esperava voltar a atrair os eleitores que se opõem à ultradireita de Le Pen, como ocorrera nas presidenciais de 2017 e 2022, e eventualmente eleger uma Assembleia Nacional mais favorável. (Com agências internacionais)


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