Ainda na bacia das almas

(*) Gisele Leite

Negociação na bacia das almas sempre significou adquirir algo por ninharia. Praticamente, a preço vil. Infelizmente, outrora já alertava que nosso país vivencia um momento cruel. Há abismos sociais. No funesto e vasto universo medieval, a bacia das almas era o derradeiro recurso de quem não dispunha de quaisquer outros meios ou recursos.

A origem da expressão, em França, é bassin des âmes, que significava que para as igrejas francesas medievais, onde a bacia das almas eram irmandades criadas com o fito de angariar fundos em missas em prol de almas do purgatório. Aliás, dentro da tradição católica as almas do purgatório estava em uma situação muito desfavorável, situavam-se exatamente na antecâmara do paraíso, porém, sofriam idênticas punições existentes no inferno.

Nessa posição exatamente entre os dois mundos, não havia muito a oferecer, fossem doações, jejuns ou mesmo penitências para expiação de seus próprios pecados. E, no fito de reduzir as punições tinham que depender da boa vontade dos vivos. Aliás, os débitos do purgatório, não havia melhor moeda do que o sacrifício da missa.

Enfim, em termos econômicos, nosso pobre e vasto país não consegue ter uma política econômica salutar e, ainda, publicamente negocia a troca do Presidente do Banco Central. Quase que reproduz o espetáculo do Bumba Meu Boi. Enfim, nossa ainda recente república democrática assiste boquiaberta na arena os gladiadores da extrema-direita que aliás, confessam estar saudosos do tempo da ditadura militar…

Permanecemos num parco presidencialismo e no parlamentarismo esmaecido. Enfim, vivemos literalmente na bacia das almas. E, pior, grandes Estados da federação brasileira estão em Recuperação Fiscal, passando literalmente o pires, de mão em mão. Numa cidade como o Rio de Janeiro, a mobilidade urbana através do transporte público segue comprometida. Aliás, a Supervia, concessionária dos trens urbanos, já anunciou que só tem recursos para funcionar até o próximo agosto. Também já manifestaram o desejo de renunciar à dita concessão de serviços públicos. Assistimos trens em péssimo estado de conservação e, reiteradas interrupções e atrasos na prestação de serviço.

O novo Plano Nacional de Educação, vulgo PNE, reiterou basicamente metas anteriores continuou a dar ênfase na qualidade de ensino, bem como os objetivos para alcançar padrões de qualidade na educação infantil, educação profissional e tecnológico bem como no ensino superior bem como a formação de docentes. Existe, ainda, a perspectiva da educação integral como conceito além da jornada expandida, tendo o caráter de educação integral.

A única saída para se redimir de nossos pecados históricos é mesmo pela educação para cidadania. Porém, sem a responsabilização individual dos entes da federação brasileira pela falta de consecução das metas do PNE, ele fica mais como mera sugestão que propriamente como um programa de política pública educacional.

Há novas promessas como a atualização dos cursos do Direito no Brasil… e, ainda, o atual Ministro da Educação, Camilo Santana que sobrestou os processos de autorização de diferentes cursos superiores na modalidade a distância (EaD), dentre estes, o de bacharelado em Direito.
Enfim, na bacia das almas situa-se, exatamente, a última esperança que apesar de ser remota, pretendiam que tais almas finalmente se salvassem e, fossem para o merecido paraíso. Afinal, Pandora fechou a caixa, deixando, no fundo a esperança…

Referências:

LEITE, Gisele. Na bacia das almas. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/na-bacia-das-almas/470518015 – Acesso em 1.7.2024.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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