Eleições na França: resultado causa alívio e preocupação na Europa

 
Em surpreendente reviravolta no segundo turno das eleições legislativas, realizado no domingo (7), a coalizão de esquerda Nova Frente Popular obteve o maior número de assentos na Assembleia Nacional da França, mas precisará de um acordo para governar.

Com a participação de quase 60% dos eleitores franceses, o resultado do pleito para as três maiores bancadas foi o seguinte: Nova Frente Popular (esquerda) com 182 assentos; Juntos (coalizão governista, de centro), 168 assentos; Reunião Nacional (extrema-direita), 143 assentos.

Para a extrema direita, apesar do crescimento do número de assentos obtidos pelo Reunião Nacional (RN), de 88 para 143, o resultado decepcionou. No primeiro turno, ocorrido há uma semana, o partido da radical Marine Le Pen largou na frente, alimentando a esperança de liderar o Legislativo francês.

“Nossa vitória foi apenas adiada”, disse Le Pen, horas depois de uma pesquisa boca de urna indicar a derrota da legenda.

O primeiro-ministro da França, Gabriel Attal (Juntos), também admitiu a derrota e disse que colocaria o cargo à disposição nesta segunda-feira (8). Apesar do anúncio de Attal, o presidente Emmanuel Macron decidiu mantê-lo o cargo pelo menos até o encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris. Cuja abertura acontece em 26 de julho.

Líderes do bloco esquerdista sinalizaram possível acordo com os partidos de centro alcançar 289 dos 577 assentos na Assembleia Nacional, necessários para ter maioria.


 
Repercussão

O resultado das eleições foi recebido de forma ambígua por líderes de outros países da Europa. As reações foram de alívio por causa do freio à ascensão da extrema direita, mas também de preocupação, pois nenhum dos partidos ou coalizão, seja da esquerda ou de centro, conseguiu formar a maioria na Assembleia Nacional, equivalente a Câmara dos Deputados no país. Na prática, isso gera uma indefinição quanto ao nome do primeiro-ministro e à governabilidade francesa.

O porta-voz do chanceler federal alemão Olaf Scholz, Steffen Hebestreit, afirmou a jornalistas em Berlim, nesta segunda-feira (8), que o temor de ver a frente ultradireitista Reunião Nacional (RN) no poder não foi concretizado. Por outro lado, ressaltou que “só o tempo dirá o que acontece com esse resultado” e cabe à França decidir. Após o primeiro turno das eleições francesas em junho, quando a RN saiu na frente, Scholz havia dito que uma possível vitória do partido liderado por Marine Le Pen poderia afetar as relações franco-alemãs.

Durante uma visita ao Departamento Federal para Migração e Refugiados da Alemanha (Bamf), em Nuremberg, Scholz afirmou esperar que o presidente francês e os legisladores eleitos possam formar um governo estável. O chanceler alemão ressaltou a importância dessa esperada estabilidade para a cooperação entre os 27 Estados-membros da União Europeia. “Isto só é possível em conjunto com a França”, disse. O secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD) de Scholz, Kevin Kühner, reagiu com mais euforia: “Foi tirado um peso da cabeça de muitas pessoas – inclusive da minha”, disse à emissora alemã ZDF.

Alívio para Kiev

Enfático com o resultado eleitoral, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, publicou um post no X (antigo Twitter): “em Paris entusiasmo, em Moscou decepção, em Kiev alívio. O suficiente para ser feliz em Varsóvia”. Os aliados da Ucrânia temiam que um governo liderado por Le Pen pudesse reduzir a ajuda militar a Kiev.

Também no X, o líder do partido socialista PASOK da Grécia, Nikos Androulakis, afirmou que o resultado foi “uma grande vitória” para a França e a Europa. “O povo francês ergueu muros contra a extrema direita, o racismo e a intolerância, e guardou os princípios atemporais da República Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade”, escreveu.


 
Já o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, publicou que tanto o Reino Unido quanto a França haviam escolhido nos últimos dias um caminho percorrido pela Espanha há um ano. “Disseram SIM ao progresso e ao avanço social e NÃO ao retrocesso nos direitos e liberdades”, publicou na mesma rede social.

Em Londres, um porta-voz do recém-eleito governo trabalhista afirmou que o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, está pronto para trabalhar com os dirigentes franceses, independentemente da filiação política. “A França é obviamente um dos parceiros mais próximos do Reino Unido. Como membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e membros do G7 temos muitos interesses comuns”, disse o porta-voz.

“Todos contra Le Pen”

A desidratação da ultradireita francesa, por outro lado, desagradou aliados europeus. O líder populista de extrema direita italiano Matteo Salvini criticou o que chama de “Todos contra Le Pen” e enfatizou que a aliança de Macron não conseguiu maioria para governar. “’O todos contra um’ reduziu o número de cadeiras, mas não o consenso para Le Pen”, escreveu no X.

Salvini é aliado do governo da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

André Ventura, líder do partido ultradireitista português Chega, afirmou que o pleito francês é “um desastre para a economia, tragédia na imigração e ruim no combate à corrupção”.

Nesta segunda-feira, a RN aderiu à recém-formada aliança “Patriotas da Europa”, do primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, Viktor Orbán, o que ajudará a torná-la a terceira maior força política do Parlamento Europeu. (Com agências internacionais)


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