Última Milha: “Abin paralela” mostra que Bolsonaro e o núcleo golpista já deveriam estar presos

 
Em 2018, muito antes do início da campanha presidencial daquele ano, o UCHO.INFO afirmou sem medo de errar que Jair Bolsonaro, se eleito, em algum momento daria um “cavalo de pau” na democracia. Fomos atacados de forma vil e covarde pelos apoiadores do golpista, mas não recuamos em momento algum, pois estávamos convictos das nossas afirmações.

Ao longo dos quatro anos do pior governo da história brasileira, mantivemos as acusações contra Bolsonaro, pois tínhamos certeza de que um golpe estava sendo gestado no Palácio do Planalto. A exemplo do que ocorreu na campanha presidencial, fomos covardemente atacados por aqueles que não têm apreço pela democracia, que agem como uma manada que responde com obediência ao som do berrante do golpismo.

Como se não bastasse a fracassada tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, além das inúmeras barbaridades cometidas por Bolsonaro e seus estafetas golpistas durante o mandato, nesta quinta-feira (11) a Polícia Federal revelou detalhes da “Operação Última Milha”, que identificou o uso da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar adversários do então presidente da República. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a operação policial e retirou o sigilo.

Os alvos da operação da PF são Mateus de Carvalho Spósito, Richards Pozzer, Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigue e Rogério Beraldo de Almeida, contra os quais houve ordem de prisão e de busca e apreensão; e José Matheus Sales Gomes e Daniel Ribeiro Lemos, alvos de mandados de busca.

Na decisão do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a nova fase da “Última Milha”, os investigados não podem se comunicar entre si. A determinação vale também para os investigados Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, Carlos Magno de Deus Rodrigues, Felipe Arlotta Freitas, Henrique César Prado Zordan e Luiz Felipe Barros Félix.


 
A chamada “Abin paralela”, criminoso braço operacional do “gabinete do ódio”, atuou não apenas para monitorar adversários, mas para blindar o senador Flávio Bolsonaro no âmbito do escândalo das “rachadinhas” e Jair Renan Bolsonaro no caso de tráfico de influência. Tudo sob a coordenação de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo Rio de Janeiro e candidato à prefeitura da capital fluminense.

Foram monitorados pela “Abin paralela” quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF): Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso.

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também foi alvo do esquema de arapongagem. Outros políticos foram vítimas do monitoramento criminoso: Rodrigo Maia (então presidente da Câmara), Kim Kataguiri (deputado federal), Joice Hasselmann (ex-deputada federal), Jean Wyllys (ex-deputado federal), João Dória Júnior (ex-governador de São Paulo) e os senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues.

Além das autoridades, quatro jornalistas foram igualmente monitorados: Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro César Batista.

Em agosto de 2021, em conversa sobre investigações sob a responsabilidade de Alexandre Moraes, dois presos nesta quinta-feira, Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, um deles diz “esse careca tá merecendo algo a mais”. Outro responde: “Só [fuzil] 7.62”. O interlocutor replica: “head shot” [tiro na cabeça].

Em outra troca de mensagens, sobre a possibilidade de Moraes ser destituído do cargo de ministro do STF, um deles afirma: “Com esse careca filho da puta só tiro mesmo. Impeachment dele não sai”.


 
Flávio Bolsonaro, valendo-se da desfaçatez que é marca registrada da sua família, veio a público, após a nova fase da Operação Última Milha, e afirmou: “fui vítima de criminosos que acessaram ilegalmente os meus dados sigilosos na Receita Federal”.

“Nada a ver com qualquer coisa da Abin. Eu não posso correr atrás dos meus direitos de vítima que eu fui de criminosos de dentro da Receita Federal que isso é usado contra mim. Faça-me o favor. Isso eu não vou aceitar”, afirmou o senador.

É estupefaciente a face lenhosa do primogênito de Jair Bolsonaro. O dinheiro proveniente das malfadadas “rachadinhas” pagou mensalidades de plano de saúde e da escola de suas filhas, mas o senador tem o desplante de afirmar que foi vítima de criminosos. A franquia de uma loja de chocolate, que funcionava em shopping na Barra da Tijuca, foi fechada às pressas, sendo que seu ex-sócio, que ameaçou revelar o que sabe, simplesmente saiu de cena.

Não obstante, Flávio Bolsonaro quitou e forma antecipada o financiamento de uma mansão comprada por R$ 6,1 milhões em 2021. A casa localizada no Lago Sul, região nobre de Brasília, foi adquirida pelo filho do golpista com uma entrada de R$ 2,87 milhões e financiamento de R$ 3,4 milhões concedido pelo Banco BRB, que seria pago ao longo de 30 anos. A quitação antecipada aconteceu há poucos dias.

Jair Bolsonaro e seus asseclas palacianos valeram-se de um Estado policialesco para abrir caminho ao plano de golpe de Estado, que pela solidez das instituições não prosperou. Somente em regimes ditatoriais esse modus operandi encontra lugar.

Em qualquer país sério e democrático, com a devida aplicação da legislação vigente, Bolsonaro e seus golpistas já estariam atrás das grades. Mesmo assim, os ditos conservadores alegam mundo afora que a liberdade inexiste no Brasil.

Como disse Tancredo Neves quando a Presidência da República foi declarada vaga, preâmbulo do golpe militar de 64: “Canalhas! Canalhas! Canalhas!”.


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