(*) Marli Gonçalves
Somos todos atletas. Vai negar que todos os dias corremos atleticamente provas importantes de sobrevivência? Que devíamos até ganhar troféus porque a tocha é que corre atrás da gente, bem quente e acesa, fumegante? Nos próximos dias, ao acompanhar a Olimpíada de Paris 2024 vamos observar bem os esforços dos que, acima de todas as dificuldades, ainda se dedicam aos esportes em busca de honrar o país.
“Parece que eles estavam em casa, resolveram sair para ir até a padaria da esquina comprar um pãozinho, calçaram um chinelinho e saíram”. Ouvi essa descrição sobre as roupinhas horrorosas que fizeram para os uniformes das equipes brasileiras que nos representam, e lá em Paris, por acaso, a Capital da moda. Exagero à parte, puxa vida, como ficaram feinhos e pobres os trajes, dos quais, creio, só se salva a jaqueta bordada a mão. Dou razão à Anita que comparou essa pobreza justamente à luta, “como o atleta é tratado no país”, e no qual foi seguida por alguns dos principais e reconhecidos nomes do esporte nacional.
Mais um motivo que compara as Olimpíadas aos nossos dias. Temos de recorrer muitas vezes às marcas populares, como a da Riachuelo, a responsável pala confecção, e que está correndo para se justificar. Alguém aí sabe se a marca foi escolhida lá no governo passado, do amigo do dono? Se não foi, pior ainda.
Mas voltando aos esportes. Tenho me sentido em plenas competições aquáticas. Do trampolim, olhando os desafios para me atirar sem fazer plof feio na água. Competindo numa raiazinha qualquer de canto com forças muito maiores, e tentando todos os movimentos para manter, antes de tudo, a cabeça fora d`água, para respirar. Borboleta, nado de peito aberto, de costas.
Brincadeiras à parte, nessa edição, o Brasil será representado por 276 atletas, a terceira maior delegação do país em uma Olimpíada, atrás apenas dos jogos do Rio 2016 e de Tóquio 2020, igual à delegação dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Ao todo serão apresentadas 43 modalidades.
Muitas nós conhecemos bem, maratonas atléticas, saltos de obstáculos, esgrima contra fascistas. Tentamos saltos ornamentais belos, nas verdadeiras piruetas atrás de ao menos pagar contas e manter o nome limpo. No ping-pong somos a bolinha. No golfe, a bola que acerta os buracos, empurrada pelas tacadas planejadas que tomamos em nossos traseiros. Temos diversas formas tais como as bolas que mudam de acordo com o que disputamos – uma se alonga, outra é mais pesada, muda a cor, tamanho, a força com a qual são impulsionadas, por raquetes, por uma, duas, várias mãos, ou equipes inteiras adversárias. Países em luta, onde divisões políticas andam se estabelecendo de forma perigosa.
Pelo menos que as guerras pausem nesses dias.
A nossa batalha, diária, continua, e continuará, desviando da mira onde somos, especialmente as mulheres, o alvo não de flechas disparadas por arcos, mas de balas e armas brancas que nos tiram da existência. Pelo menos esse ano, lá na França, teremos a paridade de gêneros pela primeira vez na História.
Com esse espírito, que somos todos atletas, e que também estaremos lá na França. Vamos torcer por nossas fadas sobre rodinhas ou os Netunos sobre pranchas, pelas pequeninas que voam em acrobacias nas barras, por todos e todas que derrubam adversários nos ringues e tablados. A cavalo, bike, barquinhos ou só com os ágeis tênis nos pés dos movimentos do breaking, dança pela primeira vez nos Jogos.
Vamos remando. Seja em qualquer campo, e de qualquer forma, dia após dia, somos atletas vitoriosos, se não nos esportes, na vida. Palmas para nós!
(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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