Tragédia anunciada

(*) Gisele Leite

De acordo com cruzamento de dados o avião que caiu em Vinhedo passou por manutenção depois de dano estrutural, em março desse ano, a aeronave da Voepass registrou problema hidráulico e contato anormal com a pista o que provocou dano estrutural, deixando o veículo por quatro meses fora de operação. Especialistas e ex-funcionários se pronunciam sobre o avião e a companhia aérea. Problemas com ar-condicionado, falha no sistema hidráulico e contato anormal com a pista.

Esses são alguns dos problemas recentes pelos quais passou o avião turboélice modelo ATR-72-500 da Voepass antes de cair repentinamente na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, matando todos os 62 ocupantes.

A produção do Fantástico apurou que a aeronave prefixo PS-VPB vinha enfrentando uma série de paradas para manutenção. Tudo começou no dia 11 de março deste ano.

Naquele dia, depois de o ATR viajar de Recife para Salvador, um relatório oficial descreveu problemas no sistema hidráulico durante o voo. Houve também um “contato anormal” da aeronave com a pista na hora do pouso. O Fantástico apurou que esse contato foi um choque da cauda do avião com a pista e que essa batida causou um “dano estrutural” na aeronave, segundo foi relatado no sistema de manutenção da empresa.

Ressalte-se que problema hidráulico em qualquer aeronave, seja num Boeing, seja um ATR, seja um Airbus é muito significativo. E, em face do dano estrutural, questiona-se se a correção efetuada pela companhia aérea na sua manutenção fora eficiente para disponibilizar novamente a aeronave para voos.

Somente no dia 9 de julho que a aeronave voltou a voar comercialmente, depois de três meses depois da referida manutenção. A primeira rota foi de Ribeirão Preto para Guarulhos, e de acordo com o Fantástico apurou, deu-se a despressurização em voo no mesmo dia e o ATR retornou, sem passageiros, para Ribeirão Preto, onde ficou parado mais quatro dias para reparos.

No dia 13 de julho, finalmente, a aeronave retomou as atividades, até cair na sexta passada. Outro ponto importante a ser analisado é a presença de gelo na rota. Outros pilotos que passaram pelo mesmo trecho naquele dia, enfrentaram esse problema.

As causas do acidente ainda vão ser profundamente investigadas, mas é natural que, no meio aeronáutico, ali entre os pilotos, tenha surgido com força a hipótese de acúmulo de gelo nas asas. primeiro porque o boletim de meteorologia de fato mostrava formação severa de gelo no trajeto.

Outro fator levado em consideração é que, trinta anos atrás, nos Estados Unidos, aconteceu um acidente muito parecido também com um ATR. Era um avião da American Eagle, que é uma subsidiária da American Airlines para voos mais curtos.

Segundo a Aeronáutica, não houve pedido do ATR para voar mais baixo. E dados do site Flight Radar, que acompanha voos pelo mundo, mostram o avião nivelado a 17 mil pés, cerca de 5 mil metros. Pouco antes da queda, ele baixa para 16.700 pés e, de repente, volta para 17.200, quando inicia a queda no que os especialistas chamam de “parafuso chato”.

Um ex-comissário da empresa falou com o Fantástico e fez críticas à manutenção das aeronaves. “A empresa colocava a segurança em segundo ou terceiro plano. Visava mais o lucro e a gente tinha um avião que apelidava de Maria da Fé, pra você ter ideia. Porque só voava pela fé. Porque não tinha explicação de como o avião daquele estava voando”, diz o funcionário que pediu para não se identificar.

O Fantástico questionou a Voepass Linhas Aéreas sobre as ocorrências que colocaram a aeronave em manutenções antes do acidente. A empresa respondeu que informações relacionadas à investigação serão restritas à Aeronáutica e outras autoridades.

A empresa não respondeu sobre o que disse à nossa reportagem um dos mais experientes pilotos de ATR do Brasil, que uma espécie de palito foi improvisado numa manutenção.

Foi aberta uma investigação oficial para determinar até que ponto o acidente da aeronave da Voepass era uma tragédia anunciada.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.


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