Milhares de famílias libanesas congestionaram rodovias em direção ao norte do Líbano nesta segunda-feira (23), fugindo do bombardeio israelense contra o grupo extremista libanês Hezbollah que deixou 492 mortos no país, incluindo crianças.
Carros, vans e caminhonetes estavam carregados de pertences e pessoas, às vezes com várias gerações da mesma família em um único veículo. A fuga em massa já é tomada como o maior êxodo no país desde os conflitos entre Israel e Hezbollah em 2006.
“Quando as explosões começaram a acontecer pela manhã, peguei todos os documentos importantes e saímos. Foram explosões por toda parte ao nosso redor. Foi aterrorizante”, disse Abed Afou à agência de notícias Reuters, cujo vilarejo de Yater foi fortemente atingido pelo bombardeio nesta madrugada.
Israel e o grupo extremista libanês Hezbollah têm trocado ataques desde que a guerra na Faixa de Gaza começou em outubro de 2023, mas a campanha militar se intensificou nas últimas semanas.
Netanyahu pede para libaneses “saírem do caminho do perigo”
Nesta segunda-feira, enquanto o bombardeio já atingia o sul do país, moradores receberam chamadas telefônicas pré-gravadas em nome das Forças Armadas de Israel, dizendo para deixarem suas casas. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também gravou um vídeo pedindo para os libaneses tomarem o aviso com seriedade e “saírem do caminho do perigo”. De acordo com seu gabinete, Netanyahu também afirmou que a guerra de Israel não é contra a população do Líbano, mas contra o Hezbollah.
Abed Afou, que havia permanecido em Yater, localizada a apenas 5 quilômetros da fronteira israelense, decidiu fugir quando as explosões começaram a atingir a área residencial do vilarejo.
“Eu estava com uma mão nas costas do meu filho, dizendo para ele não ter medo”, disse ele. A família de Afou, com três filhos entre 6 e 13 anos, e vários outros parentes, ficaram horas presos na rodovia enquanto o tráfego se arrastava para o norte. Eles não sabiam onde ficariam, disse ele, mas apenas queriam chegar a Beirute.
“Ninguém esperava que uma escalada tão repentina atingisse até mesmo vilarejos que eram seguros, como Babliyeh, e que não haviam sido bombardeados em guerras anteriores”, disse o jornalista libanês Nazir Reda, enquanto estava preso no trânsito na tentativa de alcançar o município de Babliyeh a 25 quilômetros da fronteira com Israel.
Ele disse que havia deixado seus filhos no local porque as aulas deveriam recomeçar em alguns dias. “Todos estão indo [para Beirute] com seus filhos e seus pertences – é a primeira vez que vemos esse pânico desde 2006”, afirmou à agência de notícias AFP.
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Libaneses prometem voltar
Já na região do município de Sidon, longas filas se formaram na rodovia que leva a Beirute. O movimento foi acompanhado de perto pelas forças de segurança libanesas.
Um homem se inclinou sobre uma mulher no banco do passageiro de um carro para gritar pela janela: “Nós voltaremos. Se Deus quiser, nós voltaremos. Diga ao [primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu que nós voltaremos”.
Mas outro homem, que deu apenas seu primeiro nome, Ahmed, disse que só Deus sabia se sua família poderia voltar para casa. Ele havia parado na beira da estrada, com sua van lotada com mais de 10 pessoas, muitas delas crianças.
“Ataques. Aviões de guerra. Destruição. Não sobrou ninguém lá. Todos fugiram. Pegamos nossos pertences e fomos embora”, disse ele.
“A força e a intensidade dos bombardeios são algo que nunca testemunhamos antes em todas as guerras anteriores”, disse Abu Hassan Kahoul, a caminho de Beirute com sua família depois que dois prédios foram destruídos perto do bloco de apartamentos onde ele mora.
Até mesmo em Beirute houve um ataque. Segundo a Agência Nacional de Notícias do Líbano, controlada pelo governo, o bairro de Beir al-Abed no sul da capital, foi atingido por três mísseis. A TV Al-Manar, do Hezbollah, disse que seis pessoas ficaram feridas.
O governo ordenou o fechamento de escolas e universidades na maior parte do país e começou a preparar abrigos para as pessoas deslocadas do sul.
Repercussão internacional
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta segunda-feira que os Estados Unidos tenta acalmar a situação no Líbano. “Fui informado sobre os últimos acontecimentos em Israel e no Líbano. Minha equipe está em contato constante com as autoridades e estamos trabalhando para diminuir a escalada de uma forma que permita que as pessoas voltem para casa em segurança”, disse Biden ao conversar na Casa Branca com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohamed bin Zayed Al Nahyan.
De acordo com o porta-voz do Pentágono, general Patrick Ryder, os EUA estão enviando tropas adicionais ao Oriente Médio em resposta à escalada do conflito. “Por uma questão de cautela, estamos enviando um pequeno número adicional de militares americanos para aumentar nossas forças que já estão na região”, disse.
O discurso de Biden é oportunista e emoldurado pela hipocrisia, pois enquanto ele diz que tenta acalmar a situação no Líbano, o seu governo continua fornecendo armas para Israel, que, é importante frisar, promove um genocídio na Faixa de Gaza. A investida criminosa liderada pelo facínora Benjamin Netanyahu agora avança no território do Líbano, que de forma flagrante teve a sua soberania violada.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também expressou preocupação com os bombardeios. “A dramática escalada da violência na fronteira entre Israel e Líbano é chocante, especialmente os relatos de civis mortos, incluindo crianças”, escreveu na rede social X. “A lógica de golpe e contragolpe tem consequências catastróficas para a região. A redução da escalada em ambos os lados é a tarefa do momento”, enfatizou.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, se disse alarmado com a escalada da situação no Líbano e muito preocupado com o grande número de vítimas civis relatadas pelas autoridades libanesas, segundo seu porta-voz, Stephane Dujarric.
Irã acusa Israel de querer ampliar guerra
O presidente do Irã, aliado do Hezbollah, Masoud Pezeshkian, acusou Israel de querer ampliar a guerra travada no Oriente Médio. “Eles estão nos arrastando para um ponto para onde não queremos ir”, disse o governante iraniano sobre Israel. “Não há vencedor em uma guerra. Estamos apenas nos enganando”, concluiu.
Já o Egito pediu a intervenção do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, enquanto o Iraque solicitou uma reunião urgente dos estados árabes à esteira da Assembleia Geral da ONU, que acontece nesta semana em Nova York. (Com agências internacionais)
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