A Coreia do Norte explodiu estradas que ligam seu território a Seul por volta do meio-dia desta terça-feira (15) – horário local –, conforme informações divulgadas pelo Exército sul-coreano. Em resposta à ação, este teria disparado tiros de advertência perto da fronteira entre os dois países.
“A Coreia do Norte detonou partes das estradas de Gyeongui e Donghae ao norte da Linha de Demarcação Militar (LDM). Não houve danos aos nossos militares, e nossas forças dispararam em áreas ao sul da LDM”, afirmou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, referindo-se à infraestrutura que antes ligava os dois países.
Essas estradas são consideradas simbólicas na ligação de dois países separados desde a Guerra da Coreia, no início dos anos 50. As explosões ocorrem uma semana depois de Pyongyang prometer que fecharia permanentemente a fronteira sul, em protesto a exercícios militares no país vizinho, inclusive com o uso de armamentos nucleares cedidos pelos Estados Unidos.
Pyongyang também acusa Seul de usar drones para lançar panfletos com informações contra o regime. Em reação, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, convocou uma reunião nesta segunda-feira para traçar um plano de “ação militar imediata”, de acordo com informações da rede de mídia estatal norte-coreana KCNA.
Durante o encontro, o episódio foi relatado como uma “séria provocação do inimigo”, e Kim “expressou uma posição política e militar dura”, segundo a agência.
A atitude de Pyongyang reforça as palavras proferidas no início de 2024 pelo líder norte-coreano, de que a Coreia do Sul é o “principal inimigo” de seu país. Em meio à escalada de tensão entre as duas Coreias, nos últimos meses o Norte instalou minas, construiu barreiras antitanques e postou mísseis capazes de carregar ogivas nucleares – tudo isso numa fronteira já extremamente vigiada e militarizada.
Seul divulga imagens
O Exército da Coreia do Sul divulgou vídeos de soldados norte-coreanos trajando uniformes militares antes de uma grande explosão, emitindo fumaça espessa após a detonação de trechos da estrada de Gyeongui.
Outras imagens mostram escavadeiras em ação e a chegada de caminhões vermelhos, em meio ao trabalho dos soldados, aparentemente após as explosões. Seul também divulgou vídeos da explosão de uma parte da estrada de Donghae, na costa leste.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul classificou a atitude como uma provocação “extremamente anormal”, acrescentando que Seul havia investido milhões para a construção da infraestrutura, e “a Coreia do Norte ainda tem pagamentos a serem feitos em relação a esse financiamento.”
Especialistas acreditam em mais barreiras
As estradas que ligam a Coreia do Norte à do Sul já estavam fechadas há algum tempo. Mas destruí-las, segundo especialistas, envia uma clara mensagem de que o líder norte-coreano não está disposto a negociar com Seul.
“Essa é uma medida militar prática relacionada ao sistema hostil de Estado duplo que a Coreia do Norte menciona com frequência”, afirmou Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos Norte-Coreanos de Seul.
Yang também acredita que Pyongyang pode ter a intenção de construir ainda mais barreiras físicas ao longo da fronteira, e as explosões das estradas podem ser um “trabalho preparatório”.
Agora a questão é saber “se a Coreia do Norte responderá enviando drones para o Sul ou se tomará medidas enérgicas, caso os drones se infiltrem novamente em seu território”, questiona Cheong Seong-chang, do sul-coreano Instituto Rei Sejong.
A China se manifestou a respeito do episódio, pedindo que ambas as Coreias evitem uma nova escalada, após as explosões das estradas por parte de Pyongyang. “As tensões na península coreana não atendem aos interesses comuns de todas as partes, e a prioridade é evitar uma nova escalada do conflito”, declarou Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
“Batalha” de drones e balões
Primeiramente, militares do sul negaram ter enviado drones para o território da Coreia do Norte. Depois, porém, recusaram-se a comentar o episódio, mesmo que Pyongyang tenha acusado Seul diretamente, inclusive classificando o hipotético envio de novos drones como “uma declaração de guerra”.
Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano, disse que Pyongyang obteve “provas claras” de que militares sul-coreanos são responsáveis pelos drones: “Os provocadores pagarão um preço alto”, afirmou. A Coreia do Norte disse ainda que os americanos, que têm aliança militar com a Coreia do Sul, também deveriam ser responsabilizados.
Há meses, ativistas sul-coreanos enviam objetos voadores como balões e drones para o norte carregando panfletos contra o regime nortista. No caso dos drones, normalmente feitos de metal, os ativistas constroem exemplares com um material semelhante ao isopor, o que dificulta a detecção por parte de autoridades de ambos os lados.
Em 26 de dezembro de 2022, a Coreia do Sul afirmou que drones do Norte invadiram seu espaço aéreo, forçando-a a disparar tiros de advertência e a mobilizar aeronaves. Foi a primeira vez desde 2017 que drones norte-coreanos cruzaram o espaço aéreo do Sul.
Segundo o Ministério da Defesa em Seul, após os tiros de advertência, foram enviados caças e helicópteros para abater os drones norte-coreanos, mas sem sucesso. Em decorrência, Seul informou que implantaria lasers capazes de derreter drones, e que sua capacidade de reagir a provocações seria “significativamente aprimorada”. (Com Deusteche Welle e agências internacionais)
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