Oportunistas, Ricardo Nunes e Tarcísio pegam carona no apagão e na incompetência da Enel SP

Decidimos não produzir matérias sobre as eleições municipais, principalmente no que tange às disputas por prefeituras, porque a avalanche de hipocrisia que domina as campanhas é assustadora. Mesmo assim, sentimo-nos obrigados a rever a decisão por conta do oportunismo rasteiro de alguns políticos que tentam pegar carona no apagão de energia que atingiu milhões de clientes da Enel Distribuidora São Paulo.

A interrupção no fornecimento de energia, provocada por ventos de 100 quilômetros por hora e queda de árvores por toda parte, vem causando transtorno aos moradores da maior cidade brasileira desde a noite da última sexta-feira (11), mas alguns políticos, ignorando o caos, preferiram travar uma guerra ideológica na esteira do apagão. É o caso do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que de olho na corrida presidencial de 2026 vem atuando como cabo eleitoral do emedebista.

Não temos procuração para defender a Enel SP, algo que jamais faríamos diante de tão devastadora incompetência, mas Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas deveriam recorrer ao bom-senso e evitar o espetáculo pífio que têm protagonizado nos últimos dias. Cobrar bom-senso de políticos é tarefa árdua e inglória.

O prefeito de São Paulo sabe que cabos utilizados para a distribuição de energia não caem a esmo, ao passo que árvores tombam sobre os cabos porque a administração municipal é incompetente. Quem conhece minimente a capital paulista e costuma caminhar pelas ruas da cidade sabe que milhares de árvores estão em situação de abandono, corroídas por cupins, ou seja, estão ocas. Com uma chuva mais forte, as árvores ficam encharcadas e com o peso da água acabam caindo sobre fios, pedestres e automóveis. Há em São Paulo, à espera da boa vontade do prefeito Ricardo Nunes e seus quejandos, pelo menos 13 mil pedidos de munícipes para poda e manutenção preventiva de árvores.

Que a Enel tem responsabilidade pelo recente apagão é fato, mas Ricardo Nunes não pode, em nome de seu projeto eleitoral, destilar falso bom-mocismo para ludibriar o eleitorado, dando a entender que sua administração é a melhor do século. Nunes é reconhecidamente incompetente, mas prefere pegar carona no apagão de energia, disparando repetidas vezes contra a Enel SP.

Aproveitando que o assunto é incompetência, Ricardo Nunes afirmou em seu material de campanha do primeiro turno que levou “asfalto novo em toda a cidade”. A desfaçatez do prefeito é tamanha, que ruas próximas à sede da Prefeitura paulistana estão em estado deplorável. O UCHO.INFO desafia Ricardo Nunes a provar que toda a capital paulista foi recapeada. É importante destacar que remendos nas ruas não podem ser considerados “asfalto novo”.

No afã de jogar para a plateia, Ricardo Nunes tem travado uma batalha verborrágica com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que nesta terça-feira (15) foi chamado de “vagabundo”, mesmo que de forma inominada. Para quem pretende continuar à frente da Prefeitura de São Paulo, o palavrório de Nunes é no mínimo inadequado.

Durante o apagão, vários semáforos da cidade de São Paulo deixaram de funcionar, inclusive em perigosos cruzamentos de vias, mas não se viu nas ruas agentes de trânsito orientando os motoristas e gerenciando o tráfego de veículos. No contraponto, veículos da Companhia de Engenharia de Tráfego circularam à vontade para aplicar multas.

Por outro lado, Tarcísio de Freitas, o turista acidental no mais importante estado da federação, está empenhado em levar adiante seu projeto de concorrer à Presidência da República em 2026. Para tanto, o governador precisa jogar para o eleitorado paulistano, cujos votos têm peso considerável em uma corrida presidencial. Tarcísio aposta na vitória de Ricardo Nunes para chegar politicamente vivo na eleição presidencial de 2026.

Tarcísio, que caiu de paraquedas em São Paulo, deveria saber que a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) – autarquia sob regime especial, dotada de autonomia decisória, administrativa, orçamentária e financeira – fechou os olhos, desde o apagão do final de 2023, para a incompetência deslavada da Enel SP. Para que fique claro aos leitores e leitoras, é função das Arsesp fiscalizar os serviços de energia elétrica, de competência da União, por meio de convênio com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); exercer a regulação e a fiscalização de outros serviços delegados pelo Estado.

Em um jogral marcado pelo falso moralismo, Ricardo Nunes e Tarcísio têm cobrado publicamente a saída da Enel de São Paulo, como se isso fosse pudesse acontecer da noite para o dia e desrespeitando as regras contratuais. Ambos sabem que são negativos os efeitos do apagão na campanha do prefeito que busca a reeleição. Na melhor das hipóteses, se tudo acontecer dentro do esperado e das regras, o contrato com a Enel SP não será desfeito em menos de um ano.


 
Telhado de vidro

Na esteira das baforadas de probidade de Tarcísio de Freitas, que o governador explique aos paulistas o escândalo envolvendo os contratos firmados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em 2012, com a empresa Business To Technology (B2T), quando ele era diretor do órgão.

O primeiro contrato com a B2T para o fornecimento de licenças de programas de computador para o DNIT foi assinado pelo próprio Tarcísio em 14 de agosto de 2012, no valor de R$ 11,7 milhões. Nos anos seguintes, mais dois aditivos tiveram o aval do agora governador de São Paulo, elevando o negócio para R$ 22,6 milhões. De acordo com a PF, não há qualquer evidência de que o serviço tenha sido prestado e a suspeita é de que as contratações serviram de fachada para o dinheiro ser desviado.

Também de acordo com a PF, Tarcísio de Freitas ignorou alertas de irregularidades no âmbito dos contratos com a B2T. A Advocacia-Geral da União (AGU) apontou ao DNIT a necessidade de comprovar que os preços apresentados pela empresa eram compatíveis com os praticados no mercado. Um parecer da Procuradoria Federal Especializada, que atua no órgão, também pedia para a equipe responsável pela contratação esclarecer “as razões que motivaram o pleito”.

Em 13 de agosto de 2012, Tarcísio assinou relatório “aprovando a realização do processo licitatório”. No documento, ele não mencionou os alertas e justificou que havia recursos para a contratação.

Segundo o inquérito, a B2T se valeu de uma empresa de fachada para fazer o pagamento de “gordas comissões” e “distribuir propina a servidores públicos participantes do esquema”. Os investigadores não vinculam o nome de Tarcísio ao recebimento de propina, mas apontam três funcionários subordinados a ele envolvidos no esquema.

Tarcísio ignorou os alertas para as irregularidades do contrato com a B2T, mas não se incomodou. Ricardo Nunes é investigado pela Polícia Federal no escândalo das creches, mas foge do assunto quando questionado sobre sua participação no esquema criminoso. Em suma, Tarcísio e Nunes são “a corda e a caçamba”.

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