O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu um acidente doméstico e cancelou a viagem que faria neste domingo (20) para a Rússia, onde participaria da reunião dos Brics, grupo formado pelas principais economias emergentes do planeta.
De acordo com o boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, o presidente foi atendido no sábado com um ferimento na cabeça.
“Após avaliação da equipe médica, foi orientado evitar viagem aérea de longa distância, podendo exercer suas demais atividades. Permanece sob acompanhamento de equipe médica, aos cuidados do Prof. Dr Roberto Kalil Filho e Dra Ana Helena Germoglio”, diz o boletim médico.
A assessoria de comunicação do Palácio do Planalto informou Lula seguirá com agenda de trabalho normal em Brasília durante a semana, e participará da Cúpula do Brics por meio de videoconferência.
O encontro acontece na cidade de Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro e tem sido visto como um palco usado pelo presidente russo, Vladimir Putin, para mostrar que o país não está isolado.
Isto porque a cúpula será a maior sediada na Rússia desde o início do conflito na Ucrânia e acontece em meio a uma tentativa de Putin de contornar as sanções impostas pelo Ocidente. Este seria o primeiro encontro de Lula com o presidente russo desde que o petista iniciou seu terceiro mandato, em janeiro de 2023.
Esta também é a primeira reunião do bloco desde a inclusão de cinco novos membros – Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita –, ao grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A Argentina também foi convidada, mas o presidente Javier Milei recusou a adesão.
A nova formação do bloco tem sido vista com cautela por reunir novos regimes autoritários e antiocidentais a democracias consolidadas como o Brasil. Já o Kremlin tem tomado o encontro como um triunfo diplomático que o ajudará a construir uma aliança capaz de “desafiar a hegemonia” ocidental. No último encontro do bloco, na África do Sul, Putin não esteve presente para contornar a ordem de prisão emitida contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Com Brics, Rússia contesta isolamento
Ao reunir o Brics em Kazan, o Kremlin “pretende mostrar que a Rússia não só não está isolada, como também tem parceiros e aliados”, disse à agência de notícias AFP o analista político Konstantin Kalachev, baseado em Moscou.
“Acreditamos que o Brics é um protótipo de multipolaridade, uma estrutura que une os hemisférios sul e leste com base nos princípios de soberania e respeito mútuo”, disse Yuri Ushakov, assessor do Kremlin.
Os Estados Unidos rejeitam a ideia de que o Brics poderia se tornar um “rival geopolítico”, mas expressaram preocupação com o fato de Moscou flexionar sua força diplomática, enquanto endurece o conflito na Ucrânia e reforça seus laços com China, Irã e Coreia do Norte.
O Ocidente acredita que a Rússia está usando o grupo para expandir sua influência e promover suas próprias narrativas sobre a guerra.
Brics quer ampliar bloco
Um dos focos do encontro será justamente a expansão dos Brics para receber também países parceiros, além dos Estados-membros. O tema tem sido uma prioridade da política externa russa. Atualmente há cerca de 30 países que se candidataram para esta categoria, entre eles a Turquia, cujo presidente, Recep Tayyip Erdogan, foi convidado a estar presente no encontro em Kazan.
“Na Cúpula de Joanesburgo, em 2023, foram incorporados novos membros plenos e, naquela ocasião, se encomendou ao canal de Sherpas a elaboração da categoria de parceiros. É nisso que é consumido o nosso trabalho neste semestre”, disse o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo Paes Saboia, em coletiva de imprensa sobre o evento que aconteceu antes do cancelamento de Lula.
A agenda também inclui a discussão de alternativas ao uso do dólar como moeda internacional. Um dos temas debatidos será, por exemplo, a ideia de Putin de criar um sistema de pagamento liderado pelo Brics para rivalizar com o Swift, um sistema de transferências internacionais da qual os bancos russos foram cortados em 2022.
O Brasil assume a presidência do bloco em janeiro de 2025. “Em 2014, durante a presidência brasileira do Brics, foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento e o Acordo Contingente de Reservas, dois dos maiores êxitos do bloco. Então, será uma presidência austera, mais focada em resultados”, afirmou Saboia. (Com agências de notícias)
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