Turista acidental no mais importante estado da federação, o governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo, afirmou, se apresentar qualquer prova, que serviços de inteligência detectaram mensagem do Primeiro Comando da Capital (PCC) orientando voto em Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura paulistana.
A declaração de Tarcísio é criminosa e o ato não pode ficar impune, pois trata-se de crime eleitoral e abuso de poder político. De olho na corrida presidencial de 2026 e tentando assumir a liderança da extrema direita, o governador trava uma silenciosa queda de braços com Jair Bolsonaro, o golpista e mercador de joias que está inelegível.
A declaração foi dada durante coletiva de imprensa após votação de Tarcísio, que foi questionado pelos jornalistas sobre um suposto “salve” do PCC para que não se votasse em Rosana Valle (PL), candidata à Prefeitura de Santos.
“Aconteceu aqui também, teve o salve. Houve interceptação de conversas, de orientações que eram emanadas de presídios por parte de uma facção criminosa orientando determinadas pessoas em determinadas áreas a votar em determinados candidatos. Houve essa ação de intercepção, de inteligência, mas não vai influenciar nas eleições”, afirmou Tarcísio, que estava ao lado de Ricardo Nunes.
“A gente vem alertando isso há um tempo sobre o crime organizado na política. Então, nós fizemos um trabalho grande de inteligência, temos trocado informações com Tribunal Regional Eleitoral para que providências sejam tomadas”, afirmou.
Em nota, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) afirmou não ter recebido relatórios de inteligência com suposta interceptação de mensagens de facções criminosas com orientações para o voto em Guilherme Boulos.
A Secretaria da Segurança Pública informou, em nota, que “o Sistema de Inteligência da Polícia Militar interceptou a circulação de mensagens atribuídas a uma facção criminosa determinando a escolha de candidatos à prefeitura nos municípios de Sumaré, Santos e Capital. A Polícia Civil investiga a origem das mensagens.”
Por outro lado, o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, afirmou: “a nossa inteligência não detectou qualquer recomendação de facções para este ou aquele candidato neste segundo turno nas capitais.”
O governador de São Paulo apostou todas as fichas políticas na candidatura à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, sinalizando que espera contar com o MDB em seu plano de concorrer ao Palácio do Planalto. O MDB, que há muito atenta contra os dogmas originais do partido, flerta cada vez mais com o totalitarismo, algo que ficou evidente com a presença de Tarcísio e Bolsonaro no palanque de Nunes, sempre acompanhado do presidente nacional da legenda, Baleia Rossi.
Tarcísio infringiu a legislação eleitoral, que proíbe qualquer tipo de manifestação, nos dias que antecedem a votação, que eventualmente interfira na decisão do eleitor. Em suma, trata-se de crime eleitoral, além de abuso de poder político. Esse cenário pode levar o governador paulista à inelegibilidade.
O jogo sujo e rasteiro de Tarcísio tem potencial para comprometer o prefeito Ricardo Nunes, que à sombra de silêncio obsequioso endossou a declaração do governador sobre interceptação de supostas mensagens do PCC orientando voto no candidato do PSOL. Nunes corre o risco de ter a candidatura cassada por conta desse episódio grotesco e criminoso protagonizado pelo governador.
A essa altura, com o crime consumado, a cúpula da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo está empenhada na produção célere de um relatório “tabajara” para embasar a fala oportunista e irresponsável de Tarcísio de Freitas.
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