Eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na esteira do mantra “Make America Great Again”, possivelmente criará barreiras tributárias para alguns produtos, como forma de proteger o mercado americano, em especial o setor do agronegócio.
Entre as commodities que podem sofrer com a medida populista anunciada por Trump durante a campanha, merecem destaque soja, carne e laranja, que impactará as exportações brasileiras.
Caso seja de fato adotada, a medida provocará nos Estados Unidos uma alta nos preços dos três produtos, acarretando elevação dos índices de inflação, algo nefasto para um político que durante a campanha eleitoral abusou de propostas impensadas.
Nesse cenário, o consumo nos EUA tende a cair, impactando o setor de empregos. Nenhuma economia consegue crescer de forma sustentável com tal equação. É preciso avaliar o impacto protecionismo populista na economia. Não se pode confundir dividendos políticos pontuais decorrentes da medida e seus efeitos práticos no médio prazo.
Para o Brasil, a medida provocará desconforto no agronegócio nacional, conhecido reduto de apoiadores de direitistas adeptos de milagres impossíveis e promessas rasteiras. No primeiro momento, os preços dos produtos tendem a cair no mercado brasileiro, possivelmente dando um alívio na taxa de inflação. Por outro lado, a mesma medida, se adotada, dará ao Brasil maior poder de barganha com outros importantes parceiros econômicos, a começar pela China, principal comprador de commodities brasileiras.
No campo da tecnologia, Trump tende a flexibilizar regras e impostos para atrair empresas do setor e trazer de volta as companhias americanas que mantêm linha de produção no exterior, principalmente na Ásia, como destaque para a China, onde a mão de obra é muito qualificada e abundante.
Tirar da China a produção das empresas de tecnologia será um desafio monumental, que exigirá concessões perigosas em termos fiscais. Arrumar briga com Pequim por mero capricho político não é recomendável. Além disso, há um ingrediente perigoso a ser considerado: a China é o maior credor da dívida norte-americana. É verdade que os chineses são conhecidos pela extrema paciência, mas tudo na vida tem limite.
Mesmo que Donald Trump consiga o retorno aos EUA das empresas de tecnologia, difícil será convencer o consumidor a pagar mais caro por produtos que, fabricados na China, custam menos. Confirmada a maioria republicana no Senado e na Câmara dos Representantes, o próximo presidente americano governará no estilo “rolo compressor”, mas o bolso do consumidor sempre fala mais alto, muitas vezes grita.
Entre campanha eleitoral e governo há uma vala de mentiras e delírios de ocasião, em qualquer parte do planeta, tudo em nome da conquista de voto, mas Donald Trump terá de mostrar que é capaz de cumprir as promessas que fez.
Por enquanto, Trump fatura com a falsa tese messiânica de que Deus salvou sua vida no atentado ocorrido no estado da Pensilvânia porque desejava lhe dar a missão de governar o país. Cortina de fumaça para distrair a massa de eleitores que ainda está em êxtase com uma vitória eleitoral cuja facilidade nenhum instituto de pesquisa conseguiu prever.
Governar tendo a sombra de uma dívida na casa dos US$ 35 trilhões não é tarefa fácil. É preciso doses elevadas de pragmatismo, de responsabilidade e de capacidade de negociação para não cair nas armadilhas espalhadas pelo caminho. Como se sabe, Trump é avesso a essa receita. Em suma, o contribuinte americano pagará a conta ao final de mais uma aventura trumpista.
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