Reforma ministerial poderá levar o governo Lula a “abraço dos afogados”

A política brasileira retomará as atividades na próxima semana, após recesso, mas no período muitos acontecimentos movimentaram o País. Depois da crise do PIX e da mudança na Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), que até então acatava de forma irresponsável as ordens da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a “Janja”, o governo do presidente Lula se prepara para uma reforma ministerial.

No primeiro mandato (2003-2006), Lula conseguiu inserir na equipe ministerial, que tinha 35 colaboradores, alguns nomes de reputação e competência reconhecidas. No contraponto, no atual mandato, o petista errou ao acomodar número excessivo de “companheiros” de partido, muitos dos quais comprometeram o funcionamento do governo, com direito a polêmicas de todos os naipes.

Beira a seara do inconcebível entregar a Secom para Paulo Pimenta (PT-RS), que após as enchentes no Rio Grande do Sul assumiu o posto de ministro extraordinário para assuntos relacionados à catástrofe ocorrida no estado sulista. Foi um erro grosseiro colocar Pimenta para cuidar de temas tão graves e complexos, pois seu objetivo era – talvez ainda seja – concorrer ao governo gaúcho em 2026.

Pimenta deixou a Secom, que agora está sob a responsabilidade de Sidônio Palmeira, marqueteiro responsável pela última campanha do presidente Lula. Sidônio estreou no posto demitindo os apaniguados de Janja, que não aprovou as mudanças.

Possivelmente vivendo uma paixão arrebatadora, Lula consentiu com as ingerências da primeira-dama, cujos efeitos colaterais provocaram muitos estragos no desempenho do governo. Em suma, na nossa opinião, Janja ganhou um protagonismo descabido e irresponsável. Dois anos depois da estreia do governo, a conta começou a aparecer nas pesquisas de opinião.

Em tempos de redes sociais e a extrema direita insistindo no flerte com o golpismo, que, como alertamos, continua em marcha, Sidônio Palmeira terá muito trabalho a realizar para reverter os números da avaliação do governo. A questão em pauta é saber se o novo titular da Secom terá tempo e criatividade suficiente para, até 2026, neutralizar a peçonha dos golpistas.

Outro equívoco de Lula foi entregar a pasta de Relações Institucionais ao deputado petista Alexandre Padilha, alguém desprovido de habilidade para negociar com um Congresso Nacional cada vez mais ávido por verbas oficiais, em especial as que dispensam transparência. Além disso, Padilha tem sob seu controle muitos cargos no Ministério da Saúde.

É compreensível que o presidente queira acomodar correligionários na estrutura do governo, mas ao seu redor há nomes talhados para a árdua missão de negociar com o Parlamento. Dois deles são o senador Jaques Wagner (PT-BA) e José Múcio Monteiro Filho, atual ministro da Defesa. Ambos são extremamente habilidosos no campo da articulação política.

Com a reforma ministerial despontando no horizonte, Lula já sinaliza algumas mudanças que devem ocorrer em breve, caso as especulações momentâneas se confirmem. Uma das trocas acontecerá na Secretaria-Geral da Presidência, que, tudo indica, passará para as mãos de Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná e presidente nacional do PT.

Enquanto Lula nega ter conversado com Gleisi, a parlamentar paranaense diz o contrário. Fato é que a eventual chegada de Gleisi à cúpula do governo já provoca ruídos no campo político. Senador pelo PSD do Amazonas, Omar Aziz afirma ser contra “ministro militante”.

“Ela é militante, faz críticas ao Haddad [ministro da Fazenda], como é que você vai botar uma ministra que faz críticas ao outro ministro? Como coloca um ministério que não converge, que não tem transversalidade? (…) É uma ótima presidente, é minha amiga, mas eu acho que a Dilma já repetiu esse erro lá atrás”, disse Aziz, em entrevista ao portal UOL.

O PT sempre foi uma legenda com diversas correntes internas, mas atualmente o partido apresenta múltiplas fraturas ideológicas. Prova disso é a insistência com que Gleisi Hoffmann critica o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

As últimas pesquisas de opinião mostram que há um círculo de fogo em volta do governo. Resta saber se o presidente Lula quer jogar água ou gasolina na fogueira.

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