Presidente da Câmara mostra a que veio ao silenciar diante de ameaças à democracia

Em matéria anterior, publicada antes das eleições no Congresso Nacional, realizadas no último sábado (1), afirmamos que o governo do presidente Lula e o País enfrentariam problemas com a chegada do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) ao comando da Câmara. Nosso alerta teve como base o fato de Motta ter como padrinho político ninguém menos que Eduardo Cunha, condenado e preso no âmbito do escândalo do Petrolão.

No primeiro discurso após ter confirmada sua eleição à presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta insistiu em temas vinculados à democracia, tendo citado, com cópia da Constituição em mãos, o nome de Ulysses Guimarães.

“Temos muito o que fazer. Antes de tudo, colegas de trabalho e de vida. Eu sei a responsabilidade que me espera. E sei também que ninguém faz nada sozinho. Citando Ulysses, muitos têm maior probabilidade de acertar do que um só”, afirmou o novo presidente da Câmara.

“Estaremos sempre com a democracia, pela democracia e com a democracia. E seus inimigos encontraram no Legislativo uma barreira como sempre encontraram na história”, emendou o deputado paraibano.

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Entre o discurso e a prática há sempre enorme distância, em especial no campo da política. Não demorou muito para Hugo Motta mostrar a que veio. A oposição e integrantes do Centrão, ligados de forma visceral ao bolsonarismo, se movimentam para alterar a Lei da Ficha Limpa, com o propósito de reduzir de oito para dois anos o período de inelegibilidade.

Depois de algumas horas de silêncio antidemocrático, Motta, em entrevista à rádio CBN, disse que pretende pautar apenas “consensos”. Para o parlamentar, inelegibilidade de oito anos é “muito longo”, principalmente por representar quatro eleições “quase uma eternidade na vida política”.

“No Brasil, em que se tem eleições de dois em dois anos, ex-gestores com problemas de condenação acabam sofrendo muito com essa questão”, afirmou, completando que “o presidente da Câmara não pode temer discutir temas”, afirmou Motta.

Além do aludido “cavalo de pau” que a classe política quer aplicar na Lei da Ficha Limpa, Hugo Motta terá de lidar com o projeto de anistia aos envolvidos na fracassada tentativa de golpe de Estado, movimento criminoso que teve na proa o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ambas as propostas visam deixar Bolsonaro, o mascate de joias palacianas, apto a concorrer na próxima eleição. Logo após o fatídico 8 de janeiro, o UCHO.INFO alertou para o fato de que o Brasil e os brasileiros de bem não estavam livres do golpismo.

É preciso reagir com contundência e firmeza diante dessas propostas absurdas, pois a democracia continua correndo sérios e graves riscos. Aceitar silenciosamente que o Estado de Direito seja ameaçado de forma recorrente é facilitar o avanço dos golpistas, liderados por Bolsonaro e seus quejandos.

Falsos paladinos

Noticiada largamente pela imprensa nacional, nos últimos dois dias, o movimento de políticos dispostos a alterar a Lei da Ficha Limpa não recebeu qualquer crítica do senador Sérgio Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol, que conseguiram a proeza de mandar pelos ares a Operação Lava-Jato.

Causa espécie o silêncio de Moro e Dallagnol, que ingressaram na política a reboque do discurso falacioso de combate à corrupção. Enquanto o ex-chefe da Lava-Jato em Curitiba usava o cargo de procurador para forçar a obtenção de acordos de colaboração premiada que fossem favoráveis ao seu projeto político, Moro orientava o Ministério Público no âmbito das denúncias. Foi esse conluio espúrio e criminoso, não sem antes flagrantemente ilegal, que facilitou a vida de corruptos e corruptores.

Após tentar vender à parcela incauta da opinião pública a imagem de Dom Quixote verde-louro, Moro, após deixar a equipe ministerial do golpista Jair Bolsonaro, acabou se associando ao escritório de advocacia Alvarez & Marsal, com sede nos Estados Unidos, responsável por administrar o processo de recuperação da Odebrecht, cujos diretores foram condenados pelo então juiz e federal e agora senador da República.

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