Elo de policiais com o PCC leva governo de SP a fazer mudanças em delegacias, mas PM é poupada

Quem acompanha o jornalismo do UCHO.INFO sabe que sempre destacamos o envolvimento de autoridades policiais com a facção criminosa paulista que faz do seu principal negócio o tráfico de drogas. Ao longo dos anos, nossos alertas foram considerados irresponsáveis, mas recentes acontecimentos provaram que estávamos no caminho certo.

A execução de Antonio Vinícius Gritzbach, que em acordo de colaboração premiada delatou policiais paulistas envolvidos com o Primeiro Comando da Capital (PCC), trouxe à tona detalhes dessa relação criminosa.

Desde o início das investigações sobre a morte do delator, 26 pessoas foram presas, sendo 22 policiais civis e militares. Entre os presos, três policiais militares suspeitos de participação direta na execução de Gritzbach no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Além disso, os investigadores descobriram que as munições utilizadas no assassinato pertenciam à Polícia Militar.

O crime organizado não existe sem a conivência de autoridades, que em troca da complacência com o ilícito recebem vantagens diversas e elevadas quantias. Policiais civis especializados no combate ao tráfico internacional de drogas afirmaram diversas vezes ao UCHO.INFO que os valores recebidos pelos corruptos da segurança pública são absurdos. Para que os leitores consigam avaliar os valores das propinas, o faturamento anual do PCC com o tráfico internacional de drogas é de 1 bilhão de euros.

Diante dos resultados iniciais das investigações sobre a morte de Gritzbach, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo decidiu afastar alguns dos suspeitos. Um dos primeiros alvos da onda de afastamentos foi o delegado Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como “Fábio Caipira”, que até 20 de dezembro passado chefiava o Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC). Caipira foi citado na delação de Gritzbach como um dos beneficiários do esquema criminoso.

Nesta segunda-feira (10), o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou novas mudanças no comando das principais delegacias do estado. Apesar das mudanças, Derrite manteve a cúpula das duas polícias, como o coronel Cássio Araújo de Freitas (comandante-geral da PM), o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, e o secretário-executivo da SSP, delegado Osvaldo Nico Gonçalves.

A partir desta segunda-feira, Luiz Carlos do Carmo comandará o Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), responsável pelas delegacias da Região Metropolitana de SP; Flávio Ruiz Gastaldi estará à frente do Deinter 6, em Santos; Júlio Guebert, que estava no Demarcro, foi para o Departamento de Administração e Planejamento da Polícia Civil (DAP); Marcelo Jacobucci assume o Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol).

Conhecido como “Bad Boy”, o delegado Luiz Carlos do Carmo foi citado, em interceptação telefônica, por dois policiais presos sob a suspeita de envolvimento no assassinato Gritzbach.

Presos preventivamente por suposto envolvimento com o PCC, os policiais civis Valdenir Paulo de Almeida, o “Xixo”, e Eduardo Lopes Monteiro, sobrinho da ex-corregedora da Polícia Civil de SP, tiveram conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal. Na gravação, Eduardo Monteiro revela a Xixo seu desejo de ver Bad Boy como delegado-geral. “O delegado geral pode ser um delegado amigo, né? Amigo nosso, né? Chega de ser amigo dos outros, tem que ser amigo nosso, colado em nós”, afirma Monteiro. Xixo, por sua vez, referenda a sugestão de Monteiro e diz ter se reunido com Bad Boy.

Na contramão do bom-senso, o secretário Guilherme Derrite não promoveu qualquer mudança na cúpula da Polícia Militar. O delator Antonio Vinícius Gritzbach contava com serviço de segurança prestado por policiais militares, sendo que alguns foram responsáveis por sua morte.

Em qualquer governo minimamente sério e coerente, não é o caso da gestão Tarcísio de Freitas, o secretário de Segurança Pública já teria sido exonerado. O governador de São Paulo continua apostando na letalidade da polícia para tentar se reeleger.

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