(*) Marli Gonçalves
Bermudas. Repara só. É recente, pelo menos aqui na engravatada São Paulo, ver tantas pernas desnudas, a invasão das bermudas que, com o calor absurdo que vem sendo registrado, parecem ter, enfim, libertado os homens. Não era assim. Brinque de contar quantas vê, quando sair: estão em todos os lugares.
Cambitos à mostra, todas as cores, pernas musculosas ou não, com sapatos, tênis ou chinelos, todas as ocasiões. Os mais jovens vão deixando elas caírem da cintura, mostrando dispensáveis “cofrinhos” e cuecas, algumas que deveriam até já ter sido alçadas a pano de chão, mas tudo bem, vamos indo, que nem tudo é mesmo belo. O importante é registrar a mudança de comportamento da última década, com mais gente aderindo, e o que em São Paulo realmente é novidade, desengessando um pouco a caretice reinante.
Aliás, as mulheres também estão aproveitando bastante essa libertação, e nas ruas desfilam garbosas não só com bermudas, mas com shorts que aparecem até na versão “terninho”, além dos mais justos e despojados. Quem diria que veríamos as blusas curtíssimas, os croppeds, a parte de cima dos biquinis combinadas. Umbigos à mostra, e em todos os corpos e idades – a libertação dos padrões antes impostos, sinalizada.
A moda realmente acompanha as mudanças de comportamento, as necessidades econômicas e agora até o calor quase aflitivo que não há como negar bate à nossa porta. Ainda há muitos grupos a serem alforriados, necessário notar os tantos coitados de dar dó ainda obrigados a usar uniformes pesados, de tecidos grossos, escuros. A hora deles precisa chegar.
Enquanto isso assistimos a um verdadeiro show de corpos nas ruas, completado pelas transparências e outras novidades em vestidos longos e coloridos de muitas Marias, arrastadas pelo chão, aquelas camadas, babados, que dão movimento ao andar. As mulheres parecem mais fresquinhas e ventiladas, confortáveis. Mas também outras resolveram radicalizar, e saias mais do que mini, micros, estão aí para quem quiser ver, ou tentar, até porque são adaptadas de alguma forma para, embora pareça, não mostrar nada, algumas acopladas aos tais shorts, menores. Há alguns anos causariam escândalo na sociedade machista que embora ainda persista sua opinião cada vez tem menos valor.
Normalmente a expressão “pegos com calças curtas” queria apenas dizer pegos desprevenidos; não mais. A bermuda, fui ver, surgiu no final do século XIX, quando os soldados britânicos cortavam as próprias calças para se adaptar ao calor em campos de batalha. O nome vem do arquipélago das Bermudas, onde a peça primeiro se popularizou. Grande parte das bermudas que vemos por aí já foram calças que, aproveitadas, ajudam a economia em momentos difíceis. Mas claro que há de se notar ainda o uso dos jeans furados/rasgados como se seus donos e donas tivessem sido atacados por cães ferozes se popularizaram, inclusive com alguns jeans zero quilômetro, descascados, vendidos a preços irreais nas lojas de marcas. Não deixam todos de ser também uma forma de ventilação do vestuário. Uma outra informação é que chama jorts aquelas bermudas mais compridas, que passam a linha dos joelhos, também mais largas, quase saias. Aliás, as saias também andam por aí liberadas aos homens, tentando se infiltrar, mas ainda de forma contida.
As notícias a cada dia mais esquisitas e os fatos cruéis na realidade nos pegam ainda de calças curtas diariamente, até cansa escrever sobre elas; daí ter escolhido
(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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