EUA e Rússia discutem fim da guerra na Ucrânia, mas exigências de Putin devem prevalecer

Os Estados Unidos e a Rússia concordaram em nomear equipes para negociar o fim da guerra na Ucrânia e em começar a trabalhar para melhorar seus laços diplomáticos e econômicos durante reunião na Arábia Saudita, nesta terça-feira (18), entre o ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press após o encontro, Rubio afirmou que ambos os lados concordaram em buscar três objetivos: restaurar as equipes de suas respectivas embaixadas em Washington e Moscou, criar uma equipe de alto nível para as negociações de paz na Ucrânia e explorar uma cooperação econômica mais próxima.

Nenhum representante ucraniano esteve presente no encontro, que aconteceu em meio a novo avanço de tropas russas sobre o território da Ucrânia. A reunião durou cerca de quatro horas e foi sediada em Riad, capital da Arábia Saudita.

“Paz duradoura, sustentável e aceitável”

“Hoje é o primeiro passo de uma jornada longa e difícil, mas importante”, disse Rubio após o encontro. Segundo ele, o presidente Donald Trump quer agir rapidamente para tentar pôr fim à guerra, e o objetivo é um acordo justo, duradouro e sustentável.

Em meio a preocupações na Ucrânia e entre aliados europeus sobre o esforço liderado pelos EUA, Rubio disse que o objetivo é um acordo que seja “aceitável para todos os envolvidos e que obviamente inclua a Ucrânia, mas também nossos parceiros na Europa e, é claro, o lado russo”.

De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, as equipes trabalharão para acabar com a guerra “de uma forma que seja duradoura, sustentável e aceitável para todos os lados”.

Rubio disse que está convencido de que Moscou tem disposição para se envolver em um “processo sério” com o objetivo de encerrar a guerra.

O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, afirmou que as próximas negociações vão focar nas disputas sobre território e garantias de segurança. “Isso precisa ser um fim permanente para a guerra e não um fim temporário, como vimos no passado”, disse Waltz.

Imposição da paz

A proposta de Donald Trump para alcançar o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia é no mínimo autoritária, pois negociações para eventual acordo de paz sem a participação de Kiev é um atentado ao bom-senso.

Trump quer impor à Ucrânia um modelo de acordo que fere os interesses dos ucranianos, uma vez que os territórios ocupados pela Rússia, segundo declaração do presidente americano, não serão devolvidos. Em suma, Trump está disposto a anunciar Vladimir Putin como vitorioso.

Além disso, Trump busca aproximação com Putin para enfraquecer a União Europeia, o que significa ameaça à segurança do continente, e esvaziar minimamente o poderio da China, que mantém boa relação com o Kremlin.

Rússia rejeita tropas da OTAN

Segundo o ministro do Exterior russo, a Rússia se opõe ao envio de tropas de países que integram Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à Ucrânia como parte de um cessar-fogo. A proposta foi abordada pelos americanos em conversas com líderes europeus no último final de semana, durante a Conferência de Segurança de Munique.

“O aparecimento de tropas das forças armadas dos países da Otan, seja sob uma bandeira estrangeira, sob a bandeira da União Europeia ou sob bandeiras nacionais, não muda nada a esse respeito. Isso é inaceitável para nós”, disse Lavrov.

Para ele, as conversas foram úteis e ambos os lados ouviram atentamente um ao outro. “Tenho motivos para acreditar que o lado americano entendeu melhor nossa posição”, afirmou.

No entanto, ainda durante a reunião na capital saudita, a Rússia endureceu suas exigências por um cessar-fogo. A porta-voz do Ministério do Exterior, Maria Zakharova, disse em Moscou que não seria suficiente a OTAN rejeitar a adesão da Ucrânia e que a aliança deveria ir além e descartar uma promessa feita em 2008 de que aceitaria o país em data futura.

Resumindo, Vladimir Putin está disposto a encerrar a guerra, desde que os territórios ucranianos ocupados passem ao domínio russo, não aceita tropas da OTAN no período de cessar-fogo e quer o compromisso de que a Ucrânia não integrará a aliança militar do Ocidente.

Europa cobra participação

A recente ofensiva diplomática dos EUA sobre a guerra levou a Ucrânia e seus principais aliados europeus a se mobilizarem para garantir um lugar à mesa de negociações, em meio a receios de que Washington e Moscou possam avançar em um acordo desfavorável aos países europeus.

Mesmo antes das negociações, o governo de Trump foi acusado por políticos europeus de fazer concessões gratuitas a Moscou ao descartar a adesão da Ucrânia à Otan e dizer que era uma ilusão de Kiev acreditar que poderia recuperar os 20% de seu território atualmente sob controle russo.

Uma fala do enviado especial de Trump para a Ucrânia e a Rússia no último sábado, general Keith Kellogg, acirrou ainda mais as tensões ao praticamente excluir os europeus das conversas de paz.

“Você pode ter os ucranianos, os russos e, claramente, os americanos na mesa de negociações”, disse Kellogg na Conferência de Munique. Pressionado sobre se isso significava que os europeus não seriam incluídos, ele disse: “Sou da escola do realismo. Acho que isso não vai acontecer.”

Em resposta, a França convocou reunião de emergência com países da União Europeia e o Reino Unido, na segunda-feira, para discutir a guerra.

Em Riad, Rubio afirmou que o fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia exigiria concessões de todas as partes e que a Europa fará parte das negociações. Quando questionado sobre as sanções contra a Rússia, ele defendeu que as medidas foram impostas como consequência da invasão russa e que não foram apenas os EUA que as implementaram. “A União Europeia também terá que estar na mesa de negociações em algum momento porque eles também impuseram sanções”, afirmou.

A ausência de Kiev e da UE nas conversas desta terça-feira também irritou os ucranianos. Durante uma visita oficial à Turquia, o presidente Volodymyr Zelensky reclamou de os diálogos sobre a Ucrânia estarem ocorrendo apenas entre representantes da Rússia e dos Estados Unidos, sem a participação da Ucrânia.

“A Ucrânia e a Europa num sentido amplo — e isso inclui a União Europeia, a Turquia e o Reino Unido – devem estar envolvidas nas conversações e na criação das garantias de segurança necessárias”, disse.

Ao lado de Zelensky, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia são inquestionáveis e se ofereceu para sediar possíveis negociações de paz entre a Rússia, Ucrânia e os EUA. (Com agências internacionais)

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