(*) Ucho Haddad
Há quem diga que o Congresso Nacional é o espelho da população brasileira. Os crédulos afirmam que a Câmara dos Deputados representa a vontade popular, o Senado, os interesses dos estados. Se há na Constituição trechos dos quais deve-se desconfiar, o que trata do papel das Casas legislativas certamente é um deles.
Após décadas de jornalismo, o desânimo com a política nacional é algo latente. Jamais vi um Congresso tão desqualificado quanto o de agora. Por sorte não estou mais em Brasília, onde, confesso, fui extremamente feliz pessoal e profissionalmente. Mesmo assim, a energia negativa que brota do Congresso é de assustar.
Apesar da minha indignação com o status quo da política, tenho consciência que pouco posso esperar de um país onde livrarias vão à falência, enquanto botecos proliferam por toda parte. Para piorar o cenário, a quantidade de farmácias que disputam espaço com bares é preocupante. Resumindo, o Brasil é um país de bêbados, iletrados e doentes. Sem contar os usurpadores da parcela menos favorecida da população.
Resiliente, tenho como mantra uma frase do genial e saudoso sociólogo Darcy Ribeiro, que tive a sorte de conhecê-lo. “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.”
Jamais me resignarei, mas é impossível não se indignar. Neste 27 de maio, uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado comprovou o baixíssimo nível dos parlamentares. Vou além, deixou evidente que o Congresso é um largo e imundo balcão de negócios.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, foi covardemente desrespeitada pelos senadores, a começar pelo presidente da Comissão, Marcos Rogério (PL-RO), cuja trajetória política dispensa apresentações.
A ministra foi à Comissão de Infraestrutura pera debater a criação de unidades de conservação marinha na Margem Equatorial, onde a Petrobras intenta explorar petróleo.
O ápice da sessão ocorreu quando o líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), afirmou que “a mulher Marina merecia respeito, a ministra não”. Marina exigiu pedido de desculpas para continuar, mas não foi atendida.
“Ministra Marina, que bom reencontrá-la. E, ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra, eu não estou falando com uma mulher. Eu estou falando com a ministra. Porque a mulher merece respeito, a ministra não. Por isso que eu quero separar”, disse o senador tucano.
Em março, Plínio Valério, que usa a delinquência intelectual para “lacrar” nas redes sociais, ofendeu a ministra do Meio Ambiente. “Imagine o que é tolerar a Marina 6 horas e 10 minutos sem enforcá-la?”, afirmou o senador amazonense sobre a participação da ministra em audiência na CPI das Ongs.
O que tenho visto e ouvido em minhas andanças não deixa dúvidas a respeito do fato de o Congresso ser a o espelho da sociedade, como já mencionei.
A enxurrada de mensagens apócrifas e rasteiras que recebo, com a digital dos delinquentes da extrema direita, confirma que o Brasil caminha a passos largos na direção do retrocesso. Ouso afirmar que é crescente o risco à nossa democracia. O empenho do STF para julgar e condenar os líderes da trama golpista será pouco caso o bom-senso continue sendo atropelado por velhacos com mandato eletivo.
Mudando de assunto, sem fugir do tema, não me assusta a decisão de parlamentares oposicionistas de classificar milícias e facções criminosas como terroristas. Tal investida, por certo, tem ao menos uma explicação: o banditismo político não quer concorrência.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, fotógrafo por devoção.
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