O Conselho Deliberativo do Sport Clube Corinthians Paulista Corinthians votou, na noite desta segunda-feira (26), a favor do impeachment do presidente Augusto Melo. Ele foi afastado do cargo temporariamente.
Em reunião extraordinária, 176 conselheiros votaram a favor da destituição do mandatário alvinegro, enquanto 57 votaram pela continuidade da gestão. Um conselheiro votou em branco. O Conselho Deliberativo precisava de maioria simples dos 301 membros do órgão do clube para afastar o presidente.
Dos 236 conselheiros que compareceram ao pleito, apenas dois se abstiveram do voto. Kadu Melo, sobrinho do mandatário, e Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho, não votaram.
A reunião foi aberta às 19 horas com a deliberação sobre os motivos do pedido de impeachment e a sustentação oral da defesa. O pleito aconteceu sem intercorrências ou tumulto.
Augusto Melo não foi ao local da votação, no salão nobre do Parque São Jorge. Antes do início, ele fez um pronunciamento admitindo a derrota e afirmando que sairá de “cabeça erguida”.
Após a proclamação do resultado, Osmar Stábile, vice-presidente do Timão, é quem assume o cargo temporariamente. Eleito ao lado de Melo, Stábile entrou em conflito com o presidente do clube há alguns meses e “desembarcou” do grupo de aliados da gestão no início de 2025.
A partir de agora, Tuma Jr. terá cinco dias para convocar a assembleia-geral dos associados para votação da última instância do clube. A previsão é que a assembleia dos associados acontecerá em até 60 dias.
Afastado e indiciado
O afastamento de Augusto Melo ocorre após ele ser indiciado pela Polícia Civil de São Paulo no caso Vai de Bet. O presidente corintiano foi indiciado por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.
Além de Melo, foram indiciados Marcelo Mariano (ex-diretor administrativo), Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing) e o intermediário Alex Cassundé, dono da empresa que constava no contrato com a antiga patrocinadora.
Briga política
O impeachment de Augusto Melo é fruto da ferrenha disputa política nos bastidores do alvinegro paulistano. Quem estava do lado de fora da gestão de Melo lutou para voltar ao poder. Não se trata de defender a gestão de Augusto Melo, mas de reconhecer que muita sujeira ainda virá à tona em ambos os lados da briga.
Diversos escândalos foram abafados ao longo dos anos. O temor de que o lamaçal fosse tornado público tirou o sono de muitas pessoas. Clube centenário, o Corinthians é muito maior que a disputa que culminou com o impeachment de Augusto Melo.
Interinidade e ditadura
O Corinthians será comandado de forma interina pelo vice Osmar Stábile, conselheiro vitalício do clube desde 2006. Stábile nunca escondeu o desejo de chegar à presidência do Corinthians. Ele foi vice-presidente de esportes terrestres de Alberto Dualib, presidente que também sofreu impeachment, em 2007, ano em que o Corinthians foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro. Naquele momento, o editor do UCHO.INFO afirmou que o melhor para o clube era o rebaixamento.
Stábile foi candidato à presidência do alvinegro em 2007 e 2009, mas nas duas disputas foi derrotado por Andrés Sanchez. Também concorreu como vice em 2012 e 2018, na chapa de Antonio Roque Citadini, sendo derrotado nos dois pleitos.
Em 2019, Stábile ganhou notoriedade por ter financiado a produção de um vídeo em apoio ao golpe militar de 1964 no Brasil. Em nota, o agora presidente interino do Corinthians reafirmou sua admiração pelo golpe e pela ditadura militar.
“Sou um patriota e entusiasta do contragolpe preventivo (pois é assim que boa parte que os historiadores sem ideologias pré-concebidas enxergam “1964″)”, destacava o comunicado.
“Não tenho e nem tive a pretensão de mexer com os brios, dores e sentimentos daqueles que se dizem perseguidos pelas Forças do Estado naquele importante período da nossa história. Mas acredito plenamente nos esforços de nossas Forças Armadas que evitaram males políticos maiores para a nação. E esse lado da história precisa ser conhecido pelas novas gerações! Uma só cansada narrativa que traz meias verdades ou mentiras não pode ser o único norte para um povo que necessita conhecer sua história!”, afirmava a nota.
Para um clube que foi palco da “Democracia Corinthiana”, movimento que revolucionou o futebol brasileiro nos anos 1980, liderado por jogadores como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, a interinidade de Stábile representa enorme alívio.
O movimento teve importante papel político, defendendo a volta das eleições diretas e lutando contra a ditadura militar, como evidenciado pela frase “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.
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