O exercício do jornalismo do Brasil é uma provação diária e estressante. Parte da imprensa insiste em noticiar parcialmente os fatos, atitude que encontra explicação nos interesses econômicos.
A polêmica que surgiu a partir do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) mirando fundos de investimentos no exterior causou furor no mercado financeiro. A “Faria Lima”, que pauta a parcela da opinião pública contrária ao atual governo, a mesma que fala em comunismo, resolveu esbravejar.
A grande imprensa, por razões óbvias, comprou o discurso fajuto de que a medida prejudicaria a classe média brasileira, como esse segmento da sociedade tivesse grandes investimentos no exterior. Balela da pior qualidade, mas a mídia se curva diante dos interesses do mercado e de seus delírios ideológicos, pois instituições financeiras são anunciantes potenciais. Tais veículos de comunicação sequer pensam em matar a “galinha dos ovos de ouro”.
O governo desistiu de taxar os fundos no exterior, assim como fez em relação ao PIX, porque a oposição começou a rufar os tambores da insanidade. Afinal, pouco importa o que interessa ao País, desde que os golpistas consigam abrir caminho para retornar ao poder.
Paralelamente, o Palácio do Planalto anunciou que não foi informado dos efeitos colaterais do IOF, enquanto a Casa Civil alega que teve menos de 24 horas para analisar a proposta. É impossível acreditar em um governo que tem Rui Costa na Casa Civil e Gleisi Hoffmann à frente da articulação política. Em suma, o ministro Fernando Haddad foi jogado aos leões.
Haddad, que ainda resiste no cargo, tem enfrentado o chamado “fogo amigo”, lançado pela ala petista que defende gastos públicos como forma de garantir a reeleição do presidente Lula, que, por enquanto, não se manifestou de forma enfática sobre a proposta do IOF. Caso o governo continue nesse ritmo, Lula deve começar a pensar na aposentadoria.
“Bets” na mira
Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o petista Aloizio Mercadante propôs a taxação das plataformas de apostas online, as tais “bets”, como forma de compensar o fim do IOF e turbinar a arrecadação tributária.
Também por razões óbvias, a proposta de taxar as “bets” foi criticada por vários veículos de imprensa, uma vez que as principais plataformas de apostas patrocinam clubes de futebol e garantem a transmissão de campeonatos. Além disso, as “bets” despejam fortunas em publicidade em diversos veículos da mídia nacional.
Ademais, as “bets” mantêm um forte lobby no Congresso Nacional, onde parlamentares defendem os interesses do setor em troca de polpudos mimos e agrados. Sem contar as viagens internacionais em luxuosos jatos executivos que empresários da jogatina virtual proporcionam aos políticos.
Renúncia fiscal e outros absurdos
A previsão é que o Brasil deixará de arrecadar, em 2025, quase R$ 270 bilhões por conta de renúncia fiscal. A renúncia fiscal nos estados brasileiros e no Distrito Federal triplicou nas últimas duas décadas, saltando de R$ 87,89 bilhões, em 2015, para uma estimativa de R$ 266,52 bilhões no corrente ano, de acordo com estudo publicado pela Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco).
Além disso, o governo federal deixou de arrecadar R$ 112,8 bilhões em impostos com desonerações e renúncias tributárias entre janeiro e novembro de 2024. De acordo com a Receita Federal, as principais fontes de renúncia fiscal para o governo, no ano passado, incluem desonerações no PIS-Cofins sobre combustíveis, cesta básica, transporte público coletivo e a desoneração da folha de pagamentos.
Vários segmentos da economia exercem pressão coordenada no Congresso Nacional com o objeto de manter as benesses, sob o argumento que a oneração tributária levaria à demissão de trabalhadores.
Por outro lado, à sombra de “engenharia tributária” (sic), muitas empresas optam por não recolher alguns dos impostos devidos. Apostam na execução fiscal para, em determinado momento, comprar precatórios com deságio em relação ao valor de face. Em muitos casos, após recursos e chicanas jurídicas, o imposto devido é pago com escandaloso atraso e desconto médio de 40%.
As empresas que optam pelo “drible tributário” sequer são incomodadas pela imprensa, pois, de igual modo, são grandes anunciantes. Em outras palavras, os veículos de comunicação disputam de forma ferrenha as verbas publicitárias.
Hipocrisia oficial
Em entrevista ao jornal O Globo, Fernando Haddad disse que “hoje nós vivemos um quase parlamentarismo” e que “quem dá a última palavra sobre tudo isso é o Congresso”, numa crítica indireta à fragmentação da base aliada e à necessidade de negociar cada projeto com lideranças da Câmara e do Senado.
No contraponto, para rebater a declaração do ministro da Fazenda, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (União-PB), afirmou que “quem gasta mais do que arrecada não é vítima, é autor” e que o Executivo “não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar”.
Considerando que, de acordo com Motta, a receita é cortar gastos, que os parlamentares desistam das emendas do orçamento secreto, que para escapar do viés criminoso foram rebatizadas como “emendas PIX”. Sem projetos que justifiquem a destinação do dinheiro público e sem rastreabilidade. Em outras palavras, farra deliberada.
Quando Hugo Motta foi lançado como candidato à presidência da Câmara, o UCHO.INFO afirmou que, além de inexperiente, algo já comprovado, o parlamentar é cria política de Arthur Lira, que por sua vez tem como fonte de inspiração ninguém menos que Eduardo Cunha, que dispensa maiores apresentações.
Há muito o Congresso mantém o Executivo federal como refém, extorquindo o governo de maneira acintosa e crescente, sob a ameaça de inviabilizar a aprovação de projetos de interesse do Palácio do Planalto
Temendo perder as fontes de informação, a grande imprensa e seus respectivos jornalistas muitas vezes se omitem diante do escárnio institucionalizado, no melhor estilo “uma no cravo, outra na ferradura”.
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