Trama golpista: Bolsonaro traçou estratégia com advogados, mas Mauro Cid mandou tudo pelos ares

A convite do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o ex-presidente e líder golpista Jair Bolsonaro passou o último final de semana no Palácio dos Bandeirantes. Como se a sede do Executivo paulista fosse um posto avançado para articuladores de golpe de Estado, Bolsonaro usou o Bandeirantes para definir com seus advogados estratégias visando o interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), a cargo do ministro Alexandre de Moraes.

É quase impossível descobrir qual estratégia foi definida por Bolsonaro e sua defesa, mas, por melhor que seja, o depoimento do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, implodiu a esperança do líder golpista.

Cid, que firmou acordo de colaboração premiada, tentou amenizar a situação do ex-chefe em algumas respostas, mas, sem ter como fugir, afirmou que Bolsonaro não apenas tinha conhecimento da “minuta do golpe”, mas leu o texto e sugeriu mudanças. O delator foi além e afirmou que o então presidente buscava na alegada fraude nas eleições de 2022 uma justificativa para a sonhada intervenção militar.

O depoimento de Mauro Cid não impactou a situação de Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), e de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Pelo contrário, aliviou o cenário para Heleno e Torres.

Em relação a Alexandre Ramagem, ex-diretor a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o interrogatório de Cid acabou por deixar a situação como se conhece, ou seja, é complexa e com chance de condenação.

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Alça de mira

Além de Bolsonaro, quem colheu dividendos negativos do interrogatório de Cid foi o general da reserva Walter Souza Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro por tentar obter informações sobre o acordo de delação do ex-ajudante de ordens.

No depoimento, Mauro Cid disse repetidas vezes que Braga Netto foi quem entregou dinheiro em espécie, em uma caixa de vinho, para ajudar a manter os manifestantes em frente aos quarteis. De acordo com as investigações, da Polícia Federal, o dinheiro foi providenciado por empresários do agronegócio. Apesar de ter afirmado que não sabe se Braga Netto discutiu com militares o plano “Punhal Verde e Amarelo” – que previa o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes –, Cid confirmou que o general se encontrou com os oficiais.

Para Almir Garnier, então comandante da Marinha, a situação piorou sobremaneira. Mauro Cid confirmou ter ouvido do ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, que Garnier havia dado aval ao golpe e colocava suas tropas à disposição.

A afirmação de Cid coincide com o depoimento do ex-comandante da FAB, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, e esvazia a segunda e mais versão apresentada pelo próprio Freire Gomes ao STF, após ter confirmado a postura de Garnier à Polícia Federal.

Resumindo, o golpista Jair Bolsonaro consumiu recursos públicos do estado de São Paulo ao hospedar-se no Palácio dos Bandeirantes, mas o plano malogrou, assim como a tentativa de golpe de Estado. Com grande chance de ser condenado, Bolsonaro consumirá o suado dinheiro do contribuinte durante a aguardada temporada na prisão. Apesar dos gastos elevados, a democracia não tem preço.

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