
Preocupada diante da perspectiva de perder força política a partir da eleição presidencial de 2026, a extrema direita tem se valido da desastrada operação policial que, em 28 de outubro, deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para comprometer a retomada dos índices de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A oposição, cada vez mais descontrolada, tenta transferir a Lula a responsabilidade pelo avanço do crime organizado no País, como se a segurança pública não fosse de responsabilidade dos governos estaduais. Aliás, os oposicionistas se rebelaram contra a PEC da Segurança Pública sob o argumento de que a proposta interfere na competência dos estados. Em suma, incongruência inquestionável.
O objetivo da oposição é desgastar o governo para que Lula chegue em 2026 com reduzida chance de reeleição. Para tanto, a extrema direita quer aprovar projeto que transforma facções criminosas em organizações terroristas. O posicionamento do governo contrário à proposta tem alimentado a falsa informação de que Lula defende os traficantes.
O status de organização terrorista depende de vários quesitos, os quais não encontram respaldo na legislação vigente. Caso aprovada, a proposta transferiria ao governo federal a responsabilidade pelo combate ao terrorismo, função que seria da Polícia Federal, que no momento não tem contingente humano para tal tarefa. Se os governadores de oposição defendem a manutenção da prerrogativa de executar a segurança pública, defender a proposta de organização terrorista é um contrassenso.
Na decisão que embasou a Operação Contenção, contra o Comando Vermelho, a Justiça do Rio de Janeiro autorizou a prisão de cinco envolvidos com a facção, mas o balanço final alcançou contorno de tragédia. Apesar da violência e da letalidade da operação policial, pelo menos 200 integrantes do CV conseguiram fugir.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), tentou manter o discurso pirotécnico de que a operação foi um sucesso, mas nos últimos a verdade começou a emergir.
Na terça-feira (4), em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, disse que o objetivo da polícia nunca foi prender os líderes do Comando Vermelho na área, quartel-general da facção. Ele afirmou que o foco da operação era o cumprimento de mandados de busca e apreensão e de mandados de prisão para mapear e asfixiar a organização criminosa.
A Operação Contenção foi planejada ao longo de meses, segundo informações, mas os 2.500 policiais que participaram da ação colocaram tudo a perder quando optaram por uma emboscada seguida de execução. Não se trata de defender o crime organizado, mas de exigir o estrito cumprimento da lei.
Agora, com os efeitos colaterais da operação à mostra, o governo do RJ anuncia que dez novas investidas contra o crime organizado estão no radar, com foco em braços financeiro e político do CV e retomada de território. Resumindo, resolveram fazer o que manda a inteligência policial.
As investigações em curso miram possíveis conexões do CV do Rio de Janeiro com políticos e empresários. A possibilidade de investigação de núcleo político também consta no relatório apresentado pelo governador Cláudio Castro ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Enquanto isso, parlamentares, em Brasília, defendem de forma aguerrida os interesses das bets e das fintechs, algumas das quais transformadas em lavanderia do dinheiro sujo do crime organizado. Fato é que o governador do RJ diz ter mirado no Comando Vermelho, mas seu verdadeiro alvo é a eleição de 2026.




