
Diferentemente do que alardeiam o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), o rompimento do contrato de concessão da Enel Distribuidora São Paulo não é algo simples como preparar pipoca no micro-ondas. Trata-se de um processo complexo que depende da chancela da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e deve se arrastar na Justiça.
Na esteira de interesses político-eleitorais, Tarcísio e Ricardo Nunes decidiram puxar o coro contra a Enel, aproveitando o descontentamento dos clientes da distribuidora que, devido aos efeitos de um ciclone extratropical, ficaram cinco dias (ou mais) sem energia elétrica. Enquanto Tarcísio mira o Palácio do Planalto, Nunes flerta com o Palácio dos Bandeirantes, tendo as eleições de 2026 como pano de fundo.
Para não ficar abandonado na seara dos discursos contra a Enel, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que o ministro de Minas e Energia modulasse o discurso e, ato contínuo, engrossasse o coro oportunista de Tarcísio e Nunes.
O UCHO.INFO não tem procuração para defender a Enel SP – mesmo que tivesse não encamparia tal defesa, pois é considerável sua parcela de responsabilidade –, mas é preciso, sob o manto do bom jornalismo, analisar com isenção todos os fatos que levaram ao blecaute paulistano.
Nenhuma rede elétrica aérea, por mais resistente que seja, suporta o peso de uma árvore de grande porte que, consumida internamente por cupins, sucumbe a ventos de quase 100 km/h por longo período, além de chuvas intensas.
Na reunião com Tarcísio e Ricardo Nunes, o ministro de Minas e Energia responsabilizou o prefeito da cidade de São Paulo pela queda de centenas de árvores. “A prefeitura falhou no cumprimento do seu dever”, disse Alexandre Silveira para o prefeito. “Mais de 1.300 árvores tombaram por ausência de retirada e de acompanhamento técnico adequado, e muitas delas caíram diretamente sobre a rede elétrica, agravando de forma significativa a situação”, completou.
Localizado na Avenida Paulista, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Parque Tenente Siqueira Campos, conhecido como Trianon, foi fechado durante a recente ventania que causou o apagão. Uma portaria determina que parques municipais de São Paulo devem ser fechados temporariamente devido a temporais ou ventos intensos – chuvas acima de 40mm ou ventos acima de 40km/h – para garantir a segurança dos visitantes.
Quando for declarada, pelos órgãos competentes, a caducidade do contrato de concessão da Enel SP, outra empresa do setor de distribuição de energia terá de assumir a vaga, respeitadas as regras vigentes. Que o consumidor da cidade de São Paulo não espere uma mudança radical, pois o cenário será o mesmo.
A extensa maioria da rede elétrica permanecerá apoiada em postes, dividindo espaço com emaranhados de fios de outras concessionárias (telefonia, internet e televisão a cabo – sem contar os “gatos”), as árvores da cidade continuarão abandonadas e a um passo da queda, os eventos climáticos serão recorrentes e mais severos.






