(*) Carlos Brickmann
A discussão sobre o impeachment, de certa forma, não tem sentido. Ninguém vai derrubar um Governo que já está no chão. A presidente mora no palácio, usa o avião presidencial, tem um bom cartão corporativo. Mas governar não governa.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, seu adversário mais visível, é um morto político adiado, com muito passado e zero de futuro. Está acossado pelo Ministério Público, preso a explicações em que é difícil acreditar, defendido por aliados de ocasião, prontos a abandoná-lo; e envergonhados por estar a seu lado. Pois este deputado encurralou a presidente. Para enfrentá-lo, Dilma transformou sua Presidência na Geni de Chico Buarque: “pra tudo que é nego torto, do mangue e do cais do porto”, deu empregos na Esplanada. Tenta garantir um terço dos deputados para salvar-se do impeachment – pois é, 171. E, cedendo tudo o que cedeu, nas últimas votações teve só um tiquinho a mais. Não chega a 200 deputados num plenário de 513; perde uma votação atrás da outra; parece sonada.
No boxe, há derrotas por pontos, há derrotas por nocaute; e há o nocaute técnico, quando o treinador joga a toalha, considerando que o boxeador está sem condições de continuar a luta. Dilma está sem condições de continuar a luta. É surrada impiedosamente por um adversário que se preocupa com ela apenas parte do tempo, porque a outra parte, muito maior, tem de usar para salvar a própria pele. Salvar, no caso, não é manter o mandato: é livrar-se do japonês da Federal.
Para os dilmistas, é hora de jogar a toalha e preservar a pessoa que defendem.
A onça bebe água
O ex-presidente Lula deve depor nesta quinta-feira, 17, na Polícia Federal, em Brasília. Objetivo: ouvi-lo sobre a suspeita de compra de medidas provisórias editadas em seu Governo, investigada pela Operação Zelotes. Segundo o delegado Marlon Oliveira Cajado dos Santos, Lula deverá prestar esclarecimentos sobre “fatos relacionados ao lobby realizado para a obtenção de benefícios fiscais para as empresas MMC Automotores, subsidiária da Mitsubishi no Brasil, e o Grupo CAOA (fabricante de veículos Hyundai e revendedor das marcas Ford, Hyundai e Subaru), bem como outros eventos relacionados a essas atividades”.
Prepare-se, caro leitor: se alguém mexe com Lula, o PT se eriça e se pinta para a guerra.
Na lei ou na marra
Na terça, dia 8, quando ficou claro que o Governo seria derrotado no Congresso, a tropa de choque petista optou pelo confronto físico, tentando matar a sessão. O sempre atento colunista Ucho Haddad (www.ucho.info), analisando os vídeos, localizou o deputado federal Zeca do PT, ex-governador de Mato Grosso, gritando com seus companheiros para que destruíssem as urnas. “Quebrem as máquinas, quebrem as máquinas!”
Refrescando a memória, foi Zeca do PT que apresentou a Lula o empresário José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava Jato. Só que, com ou sem urna, a votação ocorre. E Dilma não tem os votos.
Três por um
São incorretas as notícias de que o banco BTG-Pactual, de André Esteves (preso pela Operação Lava Jato), recebeu R$ 2 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito. O crédito oferecido ao BTG-Pactual é o triplo, de R$ 6 bilhões.
Como lembra o presidente de honra da Federação do Comércio de São Paulo, José Papa Jr., é o segundo socorro bilionário do Fundo em pouco tempo. O Pan Americano, banco de Sílvio Santos, estava mal. A Caixa comprou parte do banco por R$ 700 milhões, o Fundo Garantidor de Crédito entrou com perto de R$ 5 bilhões, e Esteves pôs pouco menos de R$ 500 milhões. Foi o que menos gastou, mas ficou como controlador, tendo a Caixa como minoritária.
Deve ser, como um certo filho famoso, o Ronaldinho dos Negócios. E tem quem lhe faça ótimos passes.
A água…
Sabe por que, tantos anos depois da data prevista para a conclusão das obras, o canal de transposição das águas do São Francisco não ficou pronto? A resposta deve ser dada pela Operação Vidas Secas, que começou na sexta-feira com 24 mandados de busca e apreensão e quatro prisões em nove Estados. As suspeitas a investigar envolvem o consórcio OAS/Galvão/Barbosa/Melo/Coesa; e há ligações entre essa investigação, a Vidas Secas, e a Operação Lava Jato.
Numa das secas do Nordeste, o imperador D. Pedro 2º prometeu vender até a última joia da Coroa para levar água à região. O mundo evoluiu muito desde os tempos do imperador. Hoje as joias da Coroa não dariam nem para o pixuleco.
…e sangue
Houve época, em São Paulo, em que era perigoso transitar por certas ruas do centro quando se realizava alguma operação policial: sacos de relógios contrabandeados choviam nas calçadas, tentativa dos contrabandistas de livrar-se das provas.
As coisas se sofisticaram: quando a Polícia Federal bateu à porta da Hemobrás no Recife, sacos de dinheiro voaram pela janela – e justo pela janela da diretoria. A Hemobrás, veja só, é uma empresa estatal, do Ministério da Saúde, cujo trabalho é reduzir a dependência externa do Brasil no setor de derivados do sangue. E é exatamente lá que há vampiros sugando verbas.
O diretor da Hemobrás, Rômulo Maciel Filho, foi indicado pelo senador Humberto Costa, do PT.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.