A perspectiva arrepiante – e a caminho da realidade – de sair da tribuna do Senado (depois de mais um discurso pífio a favor de Dilma, do PT e de suas gatunagens) ficou muito mais próxima de Gleisi Hoffmann (PT-PR) a partir de quinta-feira (31).
A senadora petista e o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações), foram indiciados por corrupção por embolsar R$ 1 milhão do Petrolão, o maior e mais acintoso esquema de corrupção de todos os tempos. Gleisi pode seguir o caminho aberto pelo senador Delcídio Amaral, primeiro senador preso no exercício do mandato na história política brasileira. À ex-chefe da Casa Civil pode caber a duvidosa honra de ser a primeira senadora a contemplar o despontar do astro-rei de forma geometricamente distinta.
A Polícia Federal indiciou a senadora Gleisi e o seu marido ao concluir o inquérito sobre as suspeitas de que dinheiro desviado da Petrobras abasteceu em 2010 a campanha ao Senado da parlamentar. A PF afirma ter indícios suficientes contra a senadora e o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, por suposto envolvimento em crime de corrupção. As conclusões da Polícia Federal foram anexadas ao inquérito 3979, que tramita no Supremo Tribunal Federal no escopo da Operação Lava-Jato.
Os investigadores destacam que há indícios fortes e suficientes de que a campanha de Glesi recebeu R$ 1 milhão em propina. Um novo delator da Lava-Jato, Antonio Carlos Pieruccini, informou que transportou o dinheiro, em espécie, de São Paulo para Curitiba em quatro viagens e que entregou a quantia para Ernesto Kugler, empresário dono de um shopping popular da capital paranaense e que seria próximo de Gleisi.
Segundo a PF, as entregas ocorreram na casa de Kugler e em empresas das quais é sócio. E que o empresário e o então tesoureiro da campanha de Gleisi, Ronaldo da Silva Baltazar, se falaram por telefone pelo menos 25 vezes.
De acordo com relatório da Polícia Federal, ao qual a TV Globo teve acesso, o suposto pedido de dinheiro para a campanha de Gleisi teria sido feito a Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, quando Paulo Bernardo era ministro do Planejamento do governo Lula. O pedido de dinheiro, segundo as investigações, teve tom de ameaça, pois o então ministro deixou claro que tinha conhecimento do esquema de desvios na Petrobras.
Delação
A acusação faz parte da delação do doleiro Alberto Youssef, que afirmou ter recebido determinação de Paulo Roberto Costa para entregar R$ 1 milhão para a campanha de Gleisi Hoffman do Paraná. A operação criminosa se deu em 2010, ano em que Gleisi Helena elegeu-se ao Senado.
Segundo o delator, as entregas do dinheiro sujo foram feitas em um shopping de Curitiba. As quantias teriam sido entregues pessoalmente por Yousseff a um homem e a senadora tinha conhecimento do esquema. E que Paulo Bernardo pediu um “auxílio” na campanha da mulher.
Depoimentos
Em depoimento à Polícia Federal prestado em abril do ano passado, a senadora Gleisi Hoffmann e o marido negaram irregularidades na arrecadação para a campanha da petista ao Senado Federal, em 2010. Gleisi e Bernardo negaram, ainda, solicitações de doações ao doleiro Alberto Youssef. À PF, Paulo Bernardo disse que não fez qualquer pedido de “auxílio” a Costa para a campanha da esposa.
Questionado sobre as anotações “PB” e “1,0”, encontradas na agenda de Paulo Roberto Costa apreendida pela Polícia Federal, o ex-ministro disse não ter conhecimento das anotações.
Em depoimento à Justiça, Costa afirmou que as anotações diziam respeito ao valor de R$ 1 milhão repassados a Paulo Bernardo para a campanha da petista ao Senado.
Por outro lado, também em depoimento, Gleisi Hoffmann disse desconhecer as anotações na agenda de Costa. Ela afirmou que o empresário Ernesto Kugler participou de alguns eventos da campanha de 2010, mas que não atuou na captação de recursos.