Síndrome de Crohn: doença quase invisível e de difícil diagnóstico

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A doença de Crohn é uma inflamação crônica que compromete todo o tubo digestivo, da boca até o reto e o ânus, embora a porção terminal do intestino delgado – o íleo – seja a parte mais afetada, assim como o segmento inicial do intestino grosso – o ceco.

A moléstia deriva de um descontrole do sistema imunológico. Em um portador da doença de Crohn o sistema imunológico está continuamente em atividade agredindo as paredes intestinais, afetando todas as suas camadas e causando lesões importantes.

Essa situação provoca aumento da velocidade da eliminação das fezes, esfoliação da mucosa intestinal, dificuldade para absorver os nutrientes e desnutrição.

Sem tratamento, com o passar do tempo outras graves complicações começam a surgir, desde a formação de coleções de pus dentro do abdome – os abscessos –, passando por obstruções intestinais e sangramentos digestivos.

A Síndrome de Crohn é um fator predisponente ao desenvolvimento do câncer colorretal. Contudo, não se conhece ainda a prevalência da doença no Brasil. Porém, sabe-se que a frequência é baixa na América do Sul e elevada na América do Norte, sobretudo nos Estados Unidos, onde se estima que haja 600 mil portadores dessa moléstia.
A inflamação costuma se manifestar dos 20 aos 40 anos, em proporção semelhante entre homens e mulheres.

Causas e sintomas

Os principais sintomas incluem diarreia crônica, às vezes com muco ou sangue, dor abdominal, febre e emagrecimento. Os indivíduos podem apresentar também outras manifestações à distância, como dores articulares, aftas, lesões de pele e uma inflamação nos olhos chamada uveíte.

Um sinal frequente da doença, que aparece em pelo menos 30% de seus portadores, são as fístulas, ou seja, trajetos de comunicação anormais que ligam duas regiões diferentes do intestino ou entre o intestino e órgãos como a bexiga, a superfície da pele, em volta do ânus e a vagina permitindo o transito anormal das fezes. Essa situação predispõe o indivíduo a repetidas infecções na região. Vale lembrar que a doença alterna períodos tranquilos, sem problemas, com crises de início e duração, às vezes, imprevisíveis.

O desenvolvimento da reação descontrolada do sistema imunológico, no caso dessa inflamação gastrointestinal, parece estar associado a fatores genéticos e ambientais.

No contexto da genética, pessoas com parentes portadores da inflamação têm 10% de chance de evoluir com a moléstia.

Do ponto de vista do ambiente, pode haver vários gatilhos para o desenvolvimento da doença, como uma infecção prévia, que estimule o sistema imune a produzir uma reação exagerada; o tabagismo, que aumenta a predisposição para essa inflamação em duas a quatro vezes; o consumo exagerado de conservantes, corantes para alimentos e agrotóxicos, que leva o sistema imunológico a reagir em demasia; e as condições ambientais propriamente ditas.

A incidência de Crohn é maior nos países nórdicos, no norte da Itália, no Canadá e nos Estados Unidos e Israel.


Exames e diagnósticos

A suspeita da inflamação pode ser levantada pelo conjunto de sintomas e pelo exame clínico, pois é bastante provável que o médico perceba uma maior sensibilidade e até mesmo uma massa, ou nodulação, ao examinar o abdome do indivíduo. De qualquer forma, a comprovação depende da realização de uma série de exames para localizar exatamente os segmentos inflamados, já que a doença atinge todo o tubo digestivo.

Para avaliar o estômago e o esôfago, normalmente os médicos se valem da endoscopia digestiva alta, que visualiza esses órgãos por meio de uma espécie de sonda óptica, colocada pela cavidade bucal. Já a colonoscopia serve para a análise de parte final do intestino delgado e do intestino grosso, com a mesma técnica, só que introduzida pelo ânus.

O trânsito intestinal igualmente precisa ser estudado, o que pode ser feito tanto por meio de uma radiografia com uso de contraste quanto por intermédio da cápsula endoscópica, ideal para a visualização do intestino delgado. Essa cápsula consiste em uma microcâmera, no formato de uma pílula, que, depois de ser engolida como qualquer remédio, fotografa todo o trajeto por onde passa e é naturalmente eliminada pelas fezes.

No mais, a tomografia do abdome revela informações que somam aspectos anatômicos do tubo digestivo. Completam a investigação alguns testes laboratoriais de sangue para verificar o estado de nutrição do indivíduo e pesquisar a presença de proteínas ligadas a processos inflamatórios.

Tratamento e prevenções

A doença de Crohn é crônica e, portanto, não tem cura, mas pode ser adequadamente controlada ao longo de toda a vida do indivíduo com relativo sucesso. Os sintomas, sobretudo a diarreia, costumam ser controlados com medicamentos específicos, sempre sob orientação médica

O principal objetivo do tratamento é impedir a autoagressão do sistema imunológico contra o tubo digestivo e tratar o processo inflamatório. Para tanto, usam-se alguns antibióticos e, sobretudo, imunossupressores, ou seja, drogas que reduzem a resposta do sistema imunológico.

Mais recentemente, tem sido também usada a terapia imunobiológica, assim denominada por se tratar da infusão endovenosa de anticorpos que se voltam contra o fator de necrose tumoral (TNF), uma substância que é produzida pelos glóbulos brancos, aumentando a reação inflamatória. Uma vez no organismo, os anticorpos se ligam naturalmente ao TNF, interrompendo sua ação.

Quando nenhum de tais recursos se mostra eficaz, a pessoa pode precisar de cirurgia para retirar a parte inflamada do intestino. Esse expediente pode ser necessário em caso de complicações, como por exemplo, episódios de sangramentos de difícil controle.

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