Presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está longe de ser um anjo barroco da política nacional, é alvo de processo no Conselho de Ética da Casa sob a acusação de ter mentido sobre a titularidade de contas bancárias no exterior, não declaradas às autoridades brasileiras.
A cassação do seu mandato, algo extremamente necessário e que já passou da hora, ganha mais um capítulo na tarde desta terça-feira (14), mas é impossível imaginar que a decisão final no caso moralizará a política brasileira, que se acostumou a viver à sombra da corrupção sistêmica e endêmica.
Se Cunha não tem condições de apresentar-se com paladino da moralidade pública – e isso todo brasileiros de bom senso sabem –, poucos na Câmara têm condições de fazê-lo. Afinal, no Brasil política faz-se apenas com muito dinheiro, na maioria das vezes com origem na ilicitude. E caixa 2 é situação de normalidade em nove entre dez campanhas eleitorais.
Não se trata de defender o parlamentar fluminense, que precisa urgentemente pagar por seus graves erros, mas de exigir isonomia e coerência no trato de questões relacionadas à conduta dos políticos do País.
A sessão do Conselho de Ética desta terça, que tem a deputada federal Tia Eron (PRB-BA) como possível tábua de salvação de Cunha, foi palco de um discurso pífio do petista Zé Geraldo (PA), que ousou dar lições de moral ao falar do processado, como se o seu partido, o PT, fosse um reduto de pessoas honestas e sem problemas com a Justiça.
O Partido dos Trabalhadores conquistou lugar de destaque na história do País por protagonizar o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, com muitos dos seus líderes processados, condenados e eventualmente presos, mas Zé Geraldo usou a palavra como se cerra-se fileira nas hostes de Dalai Lama.
Diante desse enorme fragilidade do PT, a deputada Tia Eron aplicou vexatória carraspana no petista Zé Geraldo, que foi obrigado a ouvir calado e a contentar-se com sua conhecida insignificância como parlamentar. Integrante da tropa de choque do PT, Zé Geraldo não se avexa ao defender a roubalheira liderada pelos “companheiros”, mas usa o Conselho de Ética indevidamente para tentar “vender” à opinião pública a falsa ideia de que seu partido é uma usina de probidade.
O petista paraense encheu os pulmões para dizer que Eduardo Cunha está prestes a ser preso – ainda não há decisão do STF acerca do tema –, mas ignorou que Lula, o lobista-palestrante, em breve poderá fazer companhia ao presidente afastado da Câmara.