Investigação sobre jato leva a esquema de corrupção na campanha de Eduardo Campos

operacao_turbulencia_1001

Demorou, mas acabou acontecendo. Caiu a máscara do Partido Socialista Brasileiro, o PSB, que nesta terça-feira (21) viu ruir o discurso moralista. Nas primeiras horas da manhã, 200 policiais deflagraram a Operação Turbulência, que na alça de mira um esquema criminoso de pagamento de propina e lavagem de dinheiro que beneficiou o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014, quando participava de campanha à Presidência da República.

As investigações começaram a partir do acidente aéreo, pois dias após a tragédia surgiram dúvidas sobre a propriedade da aeronave. Como as explicações apresentadas pela cúpula do PSB não foram convincentes, as autoridades foram a campo e descobriram um escândalo muito maior do que se imaginava. De acordo com a Polícia Federal, o esquema usava empresas “laranjas” e teria movimentado aproximadamente R$ 600 milhões. O dinheiro ilícito, segundo as investigações, teria financiado a reeleição de Campos, em 2014, e abastecido o caixa 2 da campanha presidencial do então candidato.

“A PF constatou que essas empresas eram de fachada, constituídas em nome de ‘laranjas’, e que realizavam diversas transações entre si e com outras empresas fantasmas, inclusive com algumas empresas investigadas no bojo da Operação Lava Jato”, informou a PF durante entrevista coletiva em Recife.

Na operação foram presos os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira, donos do Citation 560 XLS (prefixo PR-AFA) que caiu na cidade de Santos, no litoral paulista, matando o então presidenciável e oturas seis pessoas que estavam na aeronave. Também foi detido Arthur Roberto Lapa Rosal. Eles responderão por participação em esquema criminoso, organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Além das prisões, foram cumpridos 22 mandados de condução coercitiva e 33 de busca e apreensão em Pernambuco e Goiás.

apoio_04

Por ocasião do acidente, o PSB, como mencionado acima, tentou explicar o inexplicável e acabou incitando a PF a entrar no caso, que acabou descobrindo incoerências nas contas das empresas donas do avião.

Então presidente nacional do PSB, cargo que passou a ocupar com a morte de Eduardo Campos, o ex-ministro Roberto Amaral destacou em nota, à época da tragédia, que a aeronave estava sendo usada a devida autorização dos empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira. Amaral ressaltou em comunicado que o partido pretendia “proceder à contabilização ao término da campanha eleitoral, quando, conhecida a soma das horas voadas, seria emitido o recibo eleitoral, total e final”.

As empresas de João Carlos Lyra e Apolo Vieira não se dedicam ao negócio da aviação, por isso não podiam locar aeronaves. Para tal é preciso autorização especial da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), obtida através do registro adequado da aeronave, que, sabe-se, foi adquirida por meio de leasing junto à fabricante norte-americana Cessna para uso específico do Grupo Andrade.

Confira abaixo a nota divulgada à época pela direção do PSB

“O Partido Socialista Brasileiro esclarece:

A aeronave de prefixo PR-AFA, em cujo acidente faleceu seu presidente, Eduardo Henrique Aciolly Campos, nosso candidato à presidência da República, teve seu uso — de conhecimento público — autorizado pelos empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira.

Nos termos facultados pela legislação eleitoral, e considerando o pressuposto óbvio de que seu uso teria continuidade até o final da campanha, pretendia-se proceder à contabilização ao término da campanha eleitoral, quando, conhecida a soma das horas voadas, seria emitido o recibo eleitoral, total e final.

A tragédia, com o falecimento, inclusive, de assessores, impôs conhecidas alterações tanto na direção partidária quanto na estrutura e comando da campanha, donde as dificuldades enfrentadas no levantamento de todas as informações que são devidas aos nossos militantes e à sociedade brasileira.

Brasília, 26 de agosto de 2014

Roberto Amaral, presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro”