A eleição para o novo presidente da Câmara dos Deputados, que assumirá um mandato-tampão (até 31 de janeiro de 2017), estava marcada para começar às 16 horas desta quarta-feira (13), mas por enquanto nada acontece no plenário da Casa legislativa.
Com quatorze candidatos ao cargo – eram dezessete – a eleição traz em seu bojo muito mais do que uma disputa política acirrada, mas um jogo de interesses escusos que nas últimas horas cresceu de forma assustadora nos bastidores.
Apesar da grande quantidade de postulantes ao cargo, que desde o começo de maio vem sendo ocupado interinamente pelo vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), os mais cotados nesse pleito são Rogério Rosso (PSD-DF) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). A candidatura de Maia havia perdido força no começo desta semana, mas a entrada do peemedebista Marcelo Castro (PI) no páreo serviu para devolver esperança ao democrata.
A candidatura de Marcelo Castro é obra do lobista-palestrante Lula, que nos subterrâneos do poder trabalha incessantemente para atrapalhar o governo do presidente interino Michel Temer. Com a chegada de Castro, o Palácio do Planalto foi obrigado a entrar oficialmente na disputa e cobrar de aliados um movimento para reforçar a campanha de Rodrigo Maia, que conta com a simpatia de Temer.
A grande questão é que no caso de Rogério Rosso perder a eleição, que deverá ser definida em segundo turno, o grande derrotado será o deputado Eduardo Cunha, que mesmo diante de uma iminente cassação vem se movimentando para manter o poder no Parlamento. O seu projeto é continuar interferindo nas decisões da Câmara, o que seria possível com a vitória de Rosso, que conta com as bênçãos do ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia e Comunicações).
Até a manhã de terça-feira (12), a ordem na sede do governo era trabalhar para a vitória de Rogério Rosso, mas tudo mudou em questão de horas. A grande preocupação é o que pode acontecer na política nacional a partir de eventual derrota do candidato de Eduardo Cunha, apesar de Rosso negar esse vínculo. Por enquanto, Cunha vem cumprindo o combinado e ainda não começou a entregar cabeças de caciques peemedebistas, mas esse quadro pode mudar na esteira do resultado da escolha do novo presidente da Câmara.
A roubalheira endêmica e institucionalizada que levou o Brasil a uma crise sem precedentes não aconteceu de forma isolada e com agentes agindo por conta própria. O esquema criminoso foi orquestrado e envolveu grande parte dos partidos políticos, o que faz com que muitos tenham elevado grau de vulnerabilidade.
Desde a deflagração da Operação Lava-Jato, o político mais implicado no maior esquema de corrupção de todos os tempos é Eduardo Cunha, que se for derrotado poderá atirar a esmo e sem piedade. Afinal, o ex-presidente da Câmara já experimenta o calvário político e nada mais tem a perder.
Se Rogério Rosso é o melhor candidato é cedo para afirmar, até porque na política a cena muda em questão de segundos, mas considerando o cenário atual e as possíveis implosões futuras, a saída mais conveniente é adotar a tese popular do “já que não tem tu, vai tu mesmo”.