Enquanto Lula tenta faturar politicamente com a denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro, oferecida à Justiça nesta quarta-feira (14) pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, e seus advogados alegam que não há provas que incriminem o cliente, “companheiros” de legenda estão preocupados com a possibilidade de o ex-metalúrgico ser condenado com celeridade.
Negar os crimes apontados pelos procuradores da República é comportamento normal de qualquer acusado, até porque ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. E Lula não agiria de forma diferente, já que reconhecer que agiu como “comandante” do Petrolão seria um suicídio político, situação que se repetiria em caso de admissão da propriedade do apartamento triplex em Guarujá e do sítio em Atibaia.
Responsável na primeira instância do Judiciário pelos processos resultantes da Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, tem até cinco dias para decidir se aceita a denúncia apresentada pelos procuradores. Em caso positivo, Lula, Marisa Letícia, Léo Pinheiro, Paulo Okamotto e outros quatro denunciados passarão à condição de réus. Ato contínuo, o juiz poderá, a qualquer momento, determinar a prisão de Lula, algo que poderia ter feito em março passado, por ocasião da Operação Aletheia (24ª fase da Lava-Jato).
É fato que existe a possibilidade de Moro rejeitar a denúncia, mas a chance de isso acontecer é quase nula. Um dos denunciados, com citado acima, é José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que na terça-feira (13) prestou depoimento ao juiz Moro e disse estar disposto a colaborar com a Justiça, revelando “todos os crimes que cometeu, seja quem for do outro lado”.
Léo Pinheiro retornou à prisão, em Curitiba, por determinação de Sérgio Moro e busca um acordo de delação premiada para eventualmente reduzir a pena que lhe será imposta. Isso exige que o empreiteiro fale somente a verdade, pois do contrário inviabiliza o benefício.
Para complicar ainda mais a situação de Lula há dois delatores que sequer cogitam a possibilidade de anular o acordo de colaboração premiada: Pedro Corrêa e Delcídio Amaral. Ex-deputado federal pelo PP de Pernambuco e condenado à prisão na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), Corrêa está preso em Curitiba e em depoimento revelou detalhes comprometedores sobre a participação de Lula no Petrolão.
Ex-senador por Mato Grosso do Sul e ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio Amaral foi chamado por Lula de “idiota” e “imbecil” após sua prisão, no final de 2015. Delcídio, que deixou o PT, foi abandonado pelo partido e pressionado pela família para optar pela colaboração premiada. Recentemente, o ex-senador prestou depoimento à força-tarefa da Lava-Jato, quando deu detalhes da participação de Lula no esquema criminoso que derreteu os cofres da Petrobras.
Uma eventual prisão de Lula, mesmo que preventiva, pode desencadear um avalanche de delações. Afinal, alguns “companheiros” flagrados no Petrolão estão presos e em silêncio: José Dirceu, João Vaccari Neto e André Vargas Ilário. Se um dos três contar o que sabe, Lula passará uma temporada atrás das grades.