Forma didática como o MPF radiografou e expôs a corrupção no Brasil incomodou a classe política

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O que o Brasil quer em primeiro lugar? Resolver a crise econômica, que é gravíssima, ou promover uma faxina na política, que chegou ao mais elevado grau de degradação? É preciso escolher, pois as duas coisas não acontecerão simultaneamente. No máximo uma acompanhará a outra à distância, ou vice-versa.

No caso de a escolha ser a solução da crise econômica, um dia essa há de voltar porque a corrupção continuará sua marcha, causando estragos por todo o percurso. Apenas a título de informação, o Brasil perde anualmente R$ 200 bilhões ou mais com a corrupção.

Se a escolha for a promoção de uma profunda assepsia na política, a crise econômica demorará mais tempo para ser solucionada, pois haverá no curto prazo uma carência de políticos honestos em número suficiente para governar o País e tirá-lo do atoleiro. E que não venham os intervencionistas com o discurso que só à base da força e do porrete a situação há de mudar. Democracia é bom e todo mundo gosta.

Depois da cantilena do golpe, que agora ganhou um capítulo extra chamado “golpe continuado” para tentar desqualificar a denúncia contra Lula, o alarife profissional que comandou o assalto aos cofres públicos, segundo afirma o Ministério Público Federal, o País passou a ser embalado por preocupante guerra de discursos. De um lado está o do golpe, agora continuado, do outro está o do “comandante máximo” da corrupção. Em suma, os adversários de sempre estão a se enfrentar com novas armas.

Quando Luiz Inácio da Silva, o decadente lobista-palestrante, rebate a denúncia do MPF – corrupção e lavagem de dinheiro – a reboque de um discurso politizado, até porque não lhe resta outra saída, o Brasil está diante de um escárnio sem precedentes e que precisa ser contido com urgência. É no mínimo oportunismo criminoso afirmar que as investigações da Operação Lava-Jato têm o objetivo de aniquilar o PT e que a denúncia do MPF o de inviabilizar a candidatura de Lula em 2018.


A Operação Lava-Jato entrou em campo em março de 2014, portanto no governo da petista Dilma Rousseff. O Ministério Público Federal, que denunciou Lula criminalmente, é comandado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, conduzido e reconduzido ao cargo pelo PT. A extensa maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem compete julgar os casos de envolvidos na Lava-Jato com a prerrogativa de foro, foi indicada pelo PT. Ou seja, Lula não tem razão para reclamar, muito menos para blasfemar.

No momento em que o governo de Michel Temer informa estar preocupado com o tom das denúncias do MPF, é porque há algo de estranho nos bastidores do poder. Aliás, há também algo de certeiro na declaração do ex-advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, que relacionou sua demissão ao desejo do governo de conter as investigações da Lava-Jato ou pelo menos não mexer no vespeiro. E que surja o primeiro a dizer que não.

No Brasil, infelizmente, política e corrupção sinônimos, são entes xifópagos, em português do dia a dia, são inseparáveis. Acostumou-se ao longo dos anos a fazer da política um balcão de negócios imundo e ousado, onde apenas os criminosos mais gabaritados são convidados a participar da divisão do butim. Na política verde-loura tudo é possível, qualquer coisa é passível de ser vendida, desde que o interessado se disponha a acionar o vil metal.

Em relação à denúncia contra Lula, que muitos acreditavam ser impossível de acontecer, o preâmbulo preocupou muito mais do que a acusação propriamente dita. Isso porque a apresentação que prefaciou a denúncia em si foi de tal forma didática, que ficou claro para os brasileiros como funciona o esquema delinquente propulsado por aqueles que detêm um mandato eletivo ou ocupam um cargo público de destaque, com direito a avançar sobre o suado dinheiro do cidadão.

A preocupação dos políticos, de maneira geral, é com a maneira como a corrupção foi radiografada e exibida à população, que sequer imaginava ser a roubalheira algo tão impressionante e devastador. Considerando que no salão do banditismo político a porta está sempre aberta e entra para dançar quem quiser, não causa estranheza o frenesi generalizado que tomou conta da classe política. Afinal, todos, sem exceção, têm ao menos uma telha de vidro no telhado.

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