Greve geral é cumprida parcialmente na Venezuela; balançando no cargo, Maduro nega paralisação

(M. Bello - Reuters)
(M. Bello – Reuters)

A greve geral convocada para esta sexta-feira (28) pela oposição da Venezuela foi cumprida de forma parcial em Caracas e em outras cidades do país, segundo informou a imprensa local. O motivo foi uma covarde ameaça feita pelo tiranete Nicolás Maduro, que tem se valido cada vez mais de métodos truculentos para tentar manter-se no cargo.

Na capital, a paralisação no comércio e em escritórios foi seguida em maior parte na zona leste da cidade, enquanto nos bairros populares a participação foi menor. Os colégios ficaram quase desertos pela ausência de alunos, assim como universidades e outras instituições de ensino e pesquisa.

De acordo com o site do jornal espanhol “El País”, o trânsito e o movimento nas ruas de Caracas, principalmente no centro e na zona leste, estavam mais calmos do que um dia útil normal, porém mais agitados do que um feriado. Serviços de transporte público funcionaram normalmente.

Durante a manhã, em zonas tradicionalmente muito concorridas e com grande atividade comercial, como Sabana Grande, poucas lojas abriram as portas e era escassa a presença de pessoas. Foram também menores as filas junto a supermercados na tentativa de adquirir produtos básicos. De acordo com agências de notícias, o movimento no comércio aumentou no decorrer da tarde.

O sucesso real da greve é algo difícil de ser avaliado em função de suas características. Na última quarta-feira (26), quando uma paralisação de 12 horas foi anunciada pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), seus líderes fizeram questão de enfatizar que se trataria de uma “greve cívica”, e não se esperava, por exemplo, o fechamento de estabelecimentos comerciais e indústrias.

Na ocasião, Jesús Torrealba, secretário-executivo da MUD, disse que a paralisação seria “um protesto contra a violação do direito ao voto” e apelou para que, nesta sexta-feira, os venezuelanos “deixassem as ruas vazias e o país deserto”. O anúncio aconteceu ao fim de uma série de manifestações em várias cidades da Venezuela, quando milhares de pessoas exigiram a revogação do mandato do presidente Nicolás Maduro.

Na quinta-feira, o líder venezuelano havia advertido que o governo faria uma inspeção nas empresas dos setores agroindustrial e farmacêutico do país. Segundo ele, aquelas que aderissem à greve geral seriam “recuperadas pela classe operária”. “Empresa parada, empresa recuperada pela classe operária. Não vou hesitar, nem aceitar nenhum tipo de conspiração”, declarou Maduro.


Oposição versus governo

Enquanto a aliança opositora declara que a paralisação foi um sucesso, o governo chama de fracasso. Por meio de uma rede social, a MUD afirmou que “as ameaças de Maduro não intimidaram a população” e publicou dezenas de imagens que mostram ruas com pouco trânsito e movimento.

“A capital e os demais estados do país amanheceram com suas ruas desertas e pouco trânsito de veículos. Os cidadãos não compareceram a seus postos de trabalho”, disse a coalizão em nota. “Capital do país sem trânsito, desobediência cívica ativa. Venezuela tem fome por democracia”, declarou, por sua vez, a deputada opositora Mariela Magallanes, que também postou fotos de ruas vazias.

Enquanto isso, Maduro afirmou que a greve geral foi um “fracasso”, alegando que 95% do país funcionou normalmente. “A direita fascista fracassou. A paz e o trabalho triunfaram”, disse o presidente, acrescentando que todas as indústrias, bancos, estabelecimentos comerciais e serviços de transporte funcionaram normalmente. “Nenhum deles sequer estava paralisado”, alegou.

A greve desta sexta-feira foi motivada pela suspensão na Justiça, na semana passada, do processo para ativar um referendo que pode revogar o mandato de Maduro. A oposição acusa o governo de realizar manobras para que a consulta ocorra apenas em 2017 – o que impossibilitaria novas eleições.

Maduro vai à Cúpula Ibero-Americana

Em meio ao clima hostil na Venezuela, o presidente confirmou nesta sexta-feira que participará da XXV Cúpula Ibero-Americana, que acontece neste fim de semana em Cartagena, na Colômbia.

A presença de Maduro no evento não estava prevista, uma vez que o mandatário havia designado o vice-ministro para América Latina e Caribe, Alexander Gabriel Deleuze, como seu representante.

Fontes diplomáticas informaram à agência de notícias Efe que o Peru tem a intenção de apresentar um projeto de declaração sobre a Venezuela. O próprio presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, afirmou nesta sexta-feira, ao chegar em Cartagena, que espera que a crise seja abordada na cúpula.

“Vai ser uma reunião muito importante, porque vamos conversar sobre os grandes temas da América Latina, incluindo os temas do país vizinho, a Venezuela”, declarou Kuczynski.

A Cúpula Ibero-americana tem como tema “Juventude, Empreendimento e Educação”, mas as questões já começam a perder espaço para as discussões dos assuntos políticos da região. (Com agências internacionais)

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