Michel Temer, o presidente da República, conquistou nesta sexta-feira (17) mais um problema para a sua congestionada escrivaninha palaciana. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Mário da Silva Velloso, 81 anos, recusou o convite para assumir o comando do Ministério da Justiça, em substituição a Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente à Corte Suprema.
Além da pressão da família, questões profissionais impediram Velloso de aceitar a espinhosa tarefa de capitanear a pasta da Justiça: dezenas processos que tramitam em tribunais e contratos de exclusividade – com atuação direta e obrigatória – com seleto grupo de clientes, em sua maioria empresas de porte.
Na avaliação inicial do UCHO.INFO, uma eventual chegada de Carlos Velloso no principal gabinete Ministério da Justiça seria homenagear um governo repleto de corruptos, muitos dos quais na mira da Polícia Federal, instituição que está debaixo do guarda-chuva da pasta. Em suma, Velloso, que teve brilhante e reconhecida passagem pelo STF, é currículo demais para pouco governo. Ao dizer não, o ex-ministro da Corte preservou a própria história.
Outro quesito que pode ter se transformado em empecilho é a idade avançada de Carlos Velloso. Não que o ex-ministro seja velho, até porque a atividade intelectual mantém a jovialidade do ser humano, em especial a do espírito, mas Velloso não é mais um jovem senhor, com disposição para madrugar aos bolhões quando a PF for a campo atrás de políticos corruptos e outros criminosos. Sem contar que teria de dar explicações sobre as ações policiais.
Se por um lado é ruim para o País não ter alguém do naipe de Carlos Velloso em ministério de tanta importância, por outro é preciso estar atento para o próximo convidado. Sem muitas opções no criado-mudo, Michel Temer poderá retomar a ideia de nomear alguém com vinculação política, agradando, assim, a bancada do PMDB da Câmara dos Deputados, que ficou sem a liderança do governo na Casa.
O nome que voltou a circular é o do deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), mas sua eventual confirmação no cargo poderá produzir problemas adicionais ao governo, caso ocorra no âmbito da Operação Lava-Jato algo que gere suspeita. Como a operação vem sofrendo diversas tentativas de implosão por parte de políticos envolvidos no escândalo do Petrolão, o melhor é redobrar a cautela ao escolher o próximo ministro da Justiça.
Advogado criminalista, Pacheco foi responsável pela defesa de pelo menos dois ilustres e endinheirados personagens do Mensalão do PT, o primeiro escândalo de corrupção expressivo da era petista. Rodrigo Pacheco atuou na Ação Penal 470, que tramitou no STF, como advogado de Kátia Rabello, ex-presidente do finado Banco Rural (grande caixa do Mensalão do PT), e de Vinícius Samarane, ex-diretor da instituição financeira que tinha sede em Minas Gerais.
Não se trata de questionar a idoneidade de Pacheco como advogado e sua lisura caso venha a ocupar a pasta da Justiça, mas um governo tão problemático e com investigados de sobra, o melhor é adotar a tese popular sobre Pompeia Sula, a segunda mulher do imperador romano Júlio César, a quem não bastava ser honesta, mas parecer como tal.