Quinto do Ouro: operação da PF mostra degradação da política em um país dominado pela corrupção

Desde a deflagração da Operação Lava-Jato, em março de 2014, o Brasil vive uma avalanche de escândalos de corrupção, que mostra o nível de degradação que tomou conta da política nacional. Como disse certa feita o alarife Lula, “nunca antes na história deste país”.

De cacique do PMDB no Rio de Janeiro e poderoso no universo da política fluminense, Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa local, passou à condição de investigado em inquérito que apura pagamento de propina a partir de desvio de dinheiro público em obras superfaturadas.

Nesta quarta-feira (29), a Polícia Federal deflagrou a Operação O Quinto do Ouro, desdobramento da Lava-Jato, e na Cidade Maravilhosa cumpriu mandados de condução coercitiva (Jorge Picciani), prisão (conselheiros do TCE) e busca e apreensão.

Conselheiros do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), que deveriam zelar pelos gastos públicos e a correta aplicação do suado dinheiro do contribuinte, foram presos sob a acusação de recebimento de propina. São eles: Aloísio Neves, atual presidente do TCE-RJ, e os conselheiros José Gomes Graciosa, José Maurício Nolasco, Marco Antônio Alencar e Domingos Brazão (vice-presidente da Corte de contas).

A investigação só foi possível porque o ex-presidente do TCE fluminense, Jonas Lopes, alvo da Operação Descontrole, em dezembro passado, decidiu soltar a voz e fazer acordo de colaboração premiada.

Os investigados na “O Quinto do Ouro” são acusados de integrar esquema criminoso de pagamentos de vantagens indevidas no escopo de contratos com órgãos públicos estaduais. A contrapartida era a complacência dos investigados no controle das contas referentes aos tais contratos.

Entre as obras que permitiram o pagamento de propinas às autoridades estão as destinadas à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016. Sinal de que o Brasil sequer tinha condições e necessidade de sediar ambos os eventos esportivos.

De acordo com delação do executivo Leandro Andrade Azevedo, ex-executivo da construtora Odebrecht, Jonas Lopes teria solicitado dinheiro para aprovar o edital de concessão do Maracanã e as contas da linha 4 do metrô.


Em 2013, o então secretário de governo de Sérgio Cabral Filho, Wilson Carlos, comunicou à direção da empreiteira baiana que o edital do Maracanã fora remetido ao TCE-RJ e que a empresa precisava reunir-se com Jonas Lopes.

De acordo com o depoimento de Leandro Azevedo, o presidente do TCE à época teria cobrado propina no valor de R$ 4 milhões (em quatro parcelas) para que o edital da concessão do Estádio Mário Filho, o Maracanã, fosse aprovado.

A primeira parcela, no valor de R$ 1 milhão, teria sido paga em 10 de fevereiro de 2014 a Jonas Lopes de Carvalho Neto, filho do então presidente do TCE, no seu escritório de advocacia.

O envolvimento de Jorge Picciani, pai do atual ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB), não causou surpresa no meio político nacional. Aliás, alguns políticos vinham questionando a blindagem em torno do presidente da Alerj.

A empresa da família Picciani foi mencionada no acordo de leniência de uma executiva da Carioca Engenharia. Tânia Fontenelle declarou, em 19 de abril de 2016, que “comprou vacas superfaturadas” de uma empresa da família Picciani, a Agrobilara Comércio e Participações, para viabilizar o caixa 2 da empreiteira.

São controladores da Agrobilara: Leonardo Picciani, ministro do Esporte; Jorge Picciani, presidente da Alerj; e Rafael Picciani, deputado estadual e secretário de coordenação de Governo da Prefeitura do Rio.

Porém, confusão não é assunto estranho aos Picciani. Em setembro de 2012, os donos da Tamoio Mineração, à época avaliada em R$ 70 milhões, reuniram-se na sede da empresa para um negócio estranho e que causa inveja aos profissionais o ocultismo.

Na ocasião, o clã Picciani comprou do sócio Joaquim Vivas Caravellas cem ações da empresa mineradora. Seria um negócio normal como outro qualquer não fosse um pequeno e macabro detalhe: Caravellas não poderia ter comparecido à reunião da Tamoi, pois falecera um ano e cinco meses antes (em 21 de abril de 2011).

A Tamoio Mineração, que tem na composição acionária a família Picciani, passou a fornecer brita às empreiteiras responsáveis pela execução de obras públicas no Rio de Janeiro. Como negócio envolvendo políticos não é confiável, os Picciani têm como sócio alguém mais que suspeito: Walter Faria, dono da cervejaria Itaipava, que foi usada pela Odebrecht como caixa 2 de aluguel para o pagamento de propina à campanha de Dilma Rousseff.

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