Debaixo de uma avalanche de denúncias assustadoras, feitas por dezenas de delatores da Odebrecht no escopo da Operação Lava-Jato, o governo do presidente Michel Temer (PMDB) tenta passar à opinião pública um ar de normalidade. Para tanto, o peemedebista promoveu no domingo de Páscoa (16), no Palácio da Alvorada, reunião com integrantes do governo e lideres políticos para cuidar dos detalhes finais da proposta de reforma da Previdência.
Enquanto o presidente da República busca “vender” aos brasileiros uma tranquilidade que simplesmente inexiste no Palácio do Planalto, pois vários são os integrantes do governo acusados de corrupção, a realidade no Congresso Nacional, onde a matéria terá de ser votada, a situação é diferente, marcada pelo temor de que o pior aconteça na esteira das investigações do Petrolão.
Com a decisão do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de autorizar a abertura de inquérito para investigar dezenas de políticos acusados de envolvimento no maior esquema de corrupção de todos os tempos, a realidade no Parlamento mudou nos últimos dias, fazendo com que a chamada base aliada perdesse o viço. Isso porque muitos parlamentares estão mais preocupados com as respectivas situações do que com os interesses do governo.
O governo aposta que a reforma da Previdência será aprovada no próximo mês de maio, porém há quem olhe com doses de desconfiança essa certeza palaciana. A questão é simples: muitos dos deputados e senadores acusados pelos delatores da Odebrecht precisam da reeleição como forma de manter o foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado, uma vez que é mais lenta a velocidade do trâmite dos processos no STF. O que pode, mais adiante, resultar em prescrição dos crimes cometidos.
Absolutamente necessária, a reforma da Previdência é um tema impopular, que gerará dividendos negativos aos parlamentares que votarem a favor da proposta do governo. Em outras palavras, eleitores dificilmente votarão, em 2018, em políticos que foram favoráveis à reforma previdenciária.
A situação dos políticos é tão difícil, que alguns senadores, preocupados em manter o foro privilegiado e cujos mandatos terminarão em 31 de janeiro de 2019 (outros têm mais quatro anos), já pensam em concorrer à Câmara dos Deputados, eleição que exige menor quantidade de votos e investimento financeiro bem mais magro. Esse quadro faz com que os deputados que também buscam a reeleição passem a ter concorrência ainda maior nos seus redutos eleitorais.