Há algo mais do que estranho rondando o Palácio do Planalto. Por conta da grave crise política que vem balançando o governo, o presidente Michel Temer tem recorrido a todos os expedientes para garantir sua permanência no poder até o final do mandato – ou para postergar ao máximo a própria queda.
No momento em que a situação no âmbito do Judiciário começou a fermentar, Temer decidiu mudar o comando do Ministério da Justiça, alçando ao posto Torquato Jardim, que desde os primeiros instantes como ministro deu mostras inequívocas de que atuará como advogado do presidente da República. O que de forma cabal desvirtua a atuação da pasta, que deveria se dedicar às questões da Justiça que interessam à população.
Muito estranhamente, Torquato Jardim trocou o Ministério da Transparência pelo da Justiça na esteira de uma solicitada intervenção de José Sarney, ex-presidente do Senado e que pelo mal feito ao País ao longo dos anos já deveria ter deixado a política. Sarney, que participou ao lado de Temer da cerimônia de posse do novo ministro da Justiça, disse que não teve qualquer participação na indicação do advogado especialista em Direito Eleitoral para o cargo.
A chegada de Torquato Jardim à pasta da Justiça tem o objetivo de conter, mesmo que disfarçadamente, os avanços das investigações da Operação Lava-Jato e outras ações de combate à corrupção. E nessa seara que mescla crime e poder o ex-senador José Sarney tem interesses de sobra. Afinal, uma canhestra conversa entre o presidente da República e o agora ex-deputado Rodrigo Rocha Loures sobre portos passa obrigatoriamente pelos escândalos do coronel maranhense.
Em outra ponta da crise, não por acaso, quem operou nos bastidores para baixar a fervura que havia tomado a bancada do PMDB no Senado foi o mesmo José Sarney. Com o iminente despejo de Renan Calheiros da liderança do partido na Casa legislativa, decisão que fora tomada por causa das contundentes e seguidas críticas disparadas na direção do Palácio do Planalto, o presidente da República recorreu a Sarney para que o caldeirão da crise não entornasse.
O PMDB chegou ao Palácio do Planalto a reboque do Partido dos Trabalhadores em dois momentos: em 2010, quando a “companheira” Dilma Rousseff foi eleita, e em 2014, por ocasião da reeleição da petista. E nesses dois momentos eleitorais os peemedebistas sabiam que o projeto político do PT estava calcado na corrupção.
Com a implantação do chamado presidencialismo de coalizão, termo inventado pelo PT para justificar o loteamento do governo com direito à corrupção desenfreada, o PMDB participa desde 1º de janeiro de 2011 desse condomínio político movido pela roubalheira sistêmica e institucionalizada. Isso significa que no PMDB todos sabem demais acerca de cada integrante da legenda, o que pode ser considerado um barril de pólvora prestes a explodir.
Se por um lado Renan Calheiros vinha fazendo ameaças nos bastidores, enquanto tecia críticas ao governo, por outro o presidente Michel Temer, que continua balançando no cargo, pode ter avisado, aos correligionários, que em eventual queda levará junto a cúpula do partido.
Sarney entrou em cena para evitar o pior. Até porque, o cabo de guerra que tinha em lados opostos Michel Temer e Renan Calheiros estava tensionado ao máximo. Antes que o dique de lama rompesse, decidiram chamar um especialista em submundo político.