Secretário de Segurança de SP delira ao dizer que iluminação excessiva provocou “procissão” na Cracolândia

Governador do mais importante estado da federação, São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) continua alimentando o sonho de subir a rampa do Palácio do Planalto, mas para isso é preciso não apenas repensar suas ações, mas rever o nível intelectual de seus secretários.

Ciente de que se João Doria lograr êxito à frente da Prefeitura de São Paulo seu projeto político torna-se ainda mais difícil, até porque não se pode esquecer a delação da Odebrecht no âmbito da Operação Lava-Jato, Alckmin, longe das câmeras, torce para que as investidas do alcaide paulistano fracassem. Afinal, é preciso que Doria tropece para que Geraldo continue sendo a tábua de salvação do combalido PSDB.

O caso Cracolândia é o melhor exemplo desse comportamento nada republicano de Geraldo Alckmin, uma vez que qualquer ação bem sucedida de Doria em benefício dos usuários de drogas reforçará sua eventual campanha à Presidência. Não se trata de afirmar que o governo paulista está a agir contra qualquer proposta para a Cracolândia, mas nada faz para que o grave problema seja solucionado ou, então, minimizado.

Voltando à genialidade dos secretários de Alckmin… Na última quarta-feira (21), quando completou um mês da ação da Prefeitura na Cracolândia original (Rua Helvetia com Alameda Dino Bueno), os usuários de crack, que haviam migrado para a Praça Princesa Isabel, retornaram ao antigo espaço.

A decisão de deixar a Praça Princesa Isabel partiu dos que têm poder de mando sobre os usuários, ou seja, os traficantes, que por sua vez puxaram a “procissão” rumo à antiga Cracolândia. E os usuários seguiram como se fossem “gado marcado”. Não houve qualquer ação das autoridades que pudesse motivar essa debandada, que surpreendeu os que acompanhavam à distância o movimento na Praça, chamado pelos usuários de “fluxo”. Alguém deu uma ordem e todos cumpriram.

Secretário de Segurança Pública do Estado, Mágino Alves Barbosa Filho é o que se pode chamar de “fulanização” do delírio. Em entrevista ao portal de notícias G1, o secretário disse que ficou surpreso com a saída dos usuários da Praça Princesa Isabel, mas que a Secretaria de Segurança continuará acompanhando o “fluxo” e combatendo o tráfico.


Mágino Alves pode dizer o que quiser, até porque a Constituição Federal estabelece que “é livre a manifestação de pensamento”, mas enganar a opinião pública é demais. Falar em combate ao tráfico é piada de péssimo gosto, pois na noite da última quarta-feira os traficantes agiam livremente na Praça, sob os olhares descompromissados de policiais militares, que no auge do esforço descruzavam os braços para mudar de posição.

Se há alguma corporação fazendo trabalho de monitoramento adequado – quase de primeiro mundo – na região, essa é a Guarda Civil Metropolitana, sob a batuta do secretário José Roberto Rodrigues de Oliveira (Segurança Urbana), que estacionou na Praça Princesa Isabel um ônibus com equipamentos de última geração, o qual monitora usuários e traficantes à distância por meio de câmeras e sofisticado sistema de informática.

Sem ter o que responder ao G1, Mágino disse que talvez o excesso de iluminação na Praça Princesa Isabel tenha afugentado os usuários de drogas. Um secretário de Estado que destila pensamento tão pífio e tacanho já deveria ter sido exonerado, mas isso não acontece porque a ordem é fazer com que a solução para a Cracolândia não tenha a chancela de João Doria.

“Parece que alguém esteve lá, alguma liderança que pode ser de ONG, eu não sei, e fez esse convencimento para que eles mudassem de local. A Praça Princesa Isabel ganhou uma iluminação especial e talvez isso tenha incomodado o usuário”, afirmou o secretário.

Não foi a eficiente iluminação na Praça (a cargo do Ilume) que deflagrou a debandada dos dependentes de droga, mas uma ordem explícita dos traficantes. Considerando a remota possibilidade de a absurda afirmação de Mágino Alves estar correta, o secretário precisa explicar por qual razão os usuários consomem crack à luz do dia sem se incomodar.

A questão é uma só: as ordens na Cracolândia partem dos traficantes. E se a Secretaria de Segurança Pública está a combater o tráfico de drogas na região, algo está fora do script anunciado por Mágino Alves.

Veículo jornalístico que cultua a democracia e preserva o direito ao contraditório, o UCHO.INFO desde já está aberto para o contraponto do secretário Mágino Alves, mas é importante lembrar que no momento da “procissão” dos usuários o editor deste portal acompanhava in loco o “fluxo” na Praça Princesa Isabel e a respectiva migração. E que o secretário de Segurança Pública refresque o pensamento, pois aqui não se faz jornalismo de encomenda nem se tergiversa diante dos fatos.

apoio_04