14 de Julho: um ano após atentado em Nice, ainda restam perguntas e sobra medo

Este ano não haverá fogos de artifício no calçadão da praia de Nice, como tradicionalmente acontece em 14 de julho, dia em que os franceses comemoram a Queda da Bastilha. Em vez da comemoração pirotécnica, a bela cidade da Riviera francesa será palco de uma missa memorial com a presença do presidente Emmanuel Macron e um espetáculo noturno que lembrará as vítimas do atentado ocorrido há exatamente um ano.

Em 14 de julho de 2016, o francês nascido na Tunísia Mohamed Lahouaiej-Bouhlel avançou com um caminhão sobre uma multidão reunida no Boulevard des Anglais. O ataque durou apenas alguns minutos, o suficiente para matar 86 pessoas, incluindo muitas crianças.

As autoridades ainda não sabem o que o levou a realizar o ataque. Os familiares das vítimas e sobreviventes culpam o governo do ex-presidente François Hollande pela ausência de medidas de segurança.

Feridas que não cicatrizam

A maioria dos mais de 400 feridos no ataque de Nice já se recuperou, mas alguns sofreram danos permanentes. Cerca de 20 pacientes ainda estão em tratamento, de acordo com Pascal Boileu, funcionário do hospital universitário local.

Cerca de 3 mil parentes das vítimas e pessoas que testemunharam o ataque ainda estão em tratamento psicológico. Entre elas estão muitas crianças, que só lentamente conseguem digerir o choque que experimentaram.

Sobreviventes dizem que sofrem de distúrbios do sono e ataques de pânico, o que configura quadro de estresse pós-traumático. Para muitos, o aniversário é a primeira oportunidade para voltar ao Boulevard des Anglais e participar dos eventos memoriais. Muitos rejeitaram o convite de Emmanuel Macron.

“Nas últimas semanas tivemos contato com muitos dos afetados, durante os preparativos para os eventos memoriais de 14 de julho. Falamos com 70 pessoas, e três nos disseram que não viam sentido em se encontrar com o presidente”, disse Sophia Seco, da organização que representa as vítimas.


Investigação continua

Um ano após o atentado, as autoridades de segurança francesas criaram uma montanha de arquivos. O resultado da investigação, até agora, conta com cerca de 80 mil páginas e relatórios de investigadores, centenas de depoimentos de testemunhas e análise do laptop do agressor e de seu telefone celular.

O que falta são pistas que liguem Mohamed Lahouaiej-Bouhlel a estruturas de comando do grupo terrorista “Estado Islâmico” (EI) na Síria ou no Iraque, mesmo que a organização tenha reivindicado a responsabilidade pelo ataque. A falta de evidências ligando o EI a Lahouaiej-Bouhlel explica porque ele não estava na mira das autoridades de segurança.

As autoridades trabalham com a hipótese de que esse foi um caso de autorradicalização. O ataque de Nice foi o primeiro incidente em que um terrorista seguiu a convocação do antigo porta-voz do EI Mohammed al-Adnani. Em 2014, ele encorajou seguidores do grupo terrorista a realizar ataques na Europa e expressamente os exortou a usar veículos como armas.

Nove pessoas ainda estão sob investigação por suspeita de ajudarem no ataque. Elas são contatos locais de Lahouaiej-Bouhlel, acusadas de crimes como fornecimento de arma ao autor do ataque.

O corpo de Lahouaiej-Bouhlel foi liberado pelas autoridades francesas na semana passada e repatriado para ser enterrado na Tunísia. Nenhuma explicação foi dada sobre o motivo de a liberação do cadáver ter levado tanto tempo. Lahouaiej-Bouhlel foi baleado e morto pela polícia, que cercou seu caminhão nos momentos finais do ataque. (Com Deutsche Welle)

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